Urbanização e avanço sobre áreas de mata elevam risco de casos de febre maculosa
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Foto: Wikimedia Commons

Urbanização e avanço sobre áreas de mata elevam risco de casos de febre maculosa

A febre maculosa não é transmitida de pessoa para pessoa. A infecção ocorre exclusivamente pela picada de carrapatos infectados por bactérias do gênero Rickettsia, e o tempo que o parasita permanece fixado na pele influencia diretamente a chance de transmissão

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A Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais emitiu um alerta epidemiológico após o aumento de casos e mortes por febre maculosa naquele Estado. Segundo especialistas, este cenário está diretamente ligado a mudanças ambientais e hábitos da população.

Marco Aurélio Ferreira, mestre em Entomologia em Saúde Pública e doutorando da Faculdade de Saúde Pública da USP, explica que a combinação entre urbanização acelerada, ocupação de áreas de mata e proximidade com margens de rios tem intensificado o contato das pessoas com o carrapato-estrela, principal vetor da doença no Estado. O crescimento das populações de capivaras — hospedeiras naturais desse carrapato —, somado ao desmatamento e às condições climáticas favoráveis, cria um ambiente ideal para a proliferação do vetor. Atividades de lazer ao ar livre, muitas vezes sem medidas de proteção, completam o cenário de risco.

A febre maculosa não é transmitida de pessoa para pessoa. A infecção ocorre exclusivamente pela picada de carrapatos infectados por bactérias do gênero Rickettsia, e o tempo que o parasita permanece fixado na pele influencia diretamente a chance de transmissão.

No Brasil, o quadro mais severo da doença é causado pela Rickettsia rickettsii, transmitida pelos carrapatos Amblyomma sculptum (carrapato-estrela) e Amblyomma aureolatum (carrapato-amarelo-do-cão). Já nas regiões de Mata Atlântica, a Rickettsia parkeri, veiculada pelo Amblyomma ovale, costuma provocar infecções mais leves.

Os sinais clínicos surgem entre dois e 14 dias após a picada. Inicialmente, o paciente apresenta febre alta, dor de cabeça intensa, dores musculares, náuseas e vômitos — sintomas facilmente confundidos com dengue ou leptospirose. Depois, podem aparecer manchas vermelhas que começam nas extremidades e se espalham pelo corpo. Em casos graves, há risco de necrose, inchaço e insuficiência respiratória. A letalidade pode ultrapassar 50% quando o diagnóstico é tardio.

Por isso, o tratamento precisa ser iniciado imediatamente após a suspeita, antes mesmo da confirmação por exames. Os antibióticos usados são eficazes e estão disponíveis no SUS, mas só funcionam quando administrados no início do quadro.

A prevenção também é fundamental. Em áreas de risco, recomenda-se o uso de roupas claras e fechadas, como calças compridas e botas, além de evitar caminhar por vegetação alta. Ao voltar para casa, é importante examinar o corpo, as roupas e os animais de estimação. A remoção rápida do carrapato reduz a probabilidade de infecção. Onde cães são hospedeiros, a orientação é mantê-los em casa e afastá-los de áreas de mata.

Ferreira reforça que o controle da doença exige vigilância constante: manejo ambiental, roçada, eliminação de locais propícios à presença de carrapatos, controle dos hospedeiros e ações permanentes de educação em saúde. A suspeita clínica precoce, aliada ao tratamento imediato, é o que mais contribui para salvar vidas.

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