A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) concedeu, na noite deste sábado (29), seu título máximo — o Doutor Honoris Causa — ao rapper Leandro Roque de Oliveira, o Emicida. A homenagem, realizada no Salão de Atos, teve forte simbolismo e foi marcada pelo espírito de Ubuntu: o público recebeu o diploma junto ao artista, em um gesto coletivo.
Durante a cerimônia, o vice-reitor Pedro Costa evocou os versos citados pela ministra Cármen Lúcia em julgamento no STF — “a felicidade do branco é plena; a felicidade do preto é quase”. Ele destacou que a universidade precisa responder aos desafios contemporâneos e romper com estruturas que historicamente excluíram populações negras. “A universidade deve enfrentar as grandes injustiças do nosso tempo e ser habitada pelas pessoas que foram deixadas de fora, para construir futuros menos desiguais”, afirmou.
A indicação do nome de Emicida partiu da Faculdade de Educação (Faced), em parceria com o Coletivo de Estudantes Negros da Pedagogia (Cenp), o Coletivo UFRGS Negra, o Movimento Negro Unificado (MNU) no Estado e o Diretório Central dos Estudantes (DCE). O Conselho Universitário aprovou a honraria por unanimidade, reconhecendo a força transformadora do hip-hop, o valor dos saberes da diáspora africana e a centralidade da juventude negra e periférica na construção de um país mais justo.
A decisão também levou em conta o impacto intelectual da obra de Emicida: dezenas de teses, dissertações e TCCs já têm a produção do artista como objeto de pesquisa.
Transmitida ao vivo pela UFRGS TV, a solenidade integrou o Festival UFRGS Negra. Em sua terceira edição, o evento adotou como tema uma das mensagens do próprio Emicida: “A universidade é nóiz”.



