Pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, alertam para o avanço de um distúrbio pouco conhecido entre usuários regulares de cannabis: a síndrome da hiperêmese canabinóide, condição agora registrada pela Organização Mundial da Saúde sob o código R11.16. O quadro, classificado como um problema gastrointestinal, tem se tornado motivo recorrente de atendimentos de emergência, especialmente entre pessoas que fazem uso frequente da planta.
A síndrome causa episódios repetidos de náuseas intensas, vômitos persistentes e dor abdominal aguda, sintomas que podem durar dias e reaparecer várias vezes ao longo do ano. Estudos citados por especialistas apontam que os sinais costumam surgir horas ou até um dia após o último consumo. Um comportamento observado em grande parte dos pacientes é o alívio temporário ao tomar banhos muito quentes, um padrão considerado característico, embora o motivo ainda não tenha explicação definitiva.
Apesar de estar diretamente associada ao uso contínuo de cannabis, a ciência ainda não compreende por que apenas parte dos usuários desenvolve a síndrome. Pesquisadores destacam, porém, que a única forma comprovada de interromper as crises é suspender totalmente o consumo da substância.
Com a inclusão do CID R11.16, hospitais e serviços de saúde passam a registrar casos de maneira padronizada. Esse avanço deve ajudar médicos e pesquisadores a entender melhor a evolução da doença, identificar perfis mais vulneráveis e mapear quantos pacientes realmente são afetados, algo que antes era difícil de medir devido à falta de classificações específicas.
Os episódios da síndrome podem ocorrer até quatro vezes por ano e desafiam o tratamento convencional: medicamentos comuns contra enjoo costumam ter pouca eficácia. Em situações agudas, equipes médicas recorrem a alternativas como Haldol ou cremes de capsaicina, usados para reduzir a dor abdominal associada às crises.
Profissionais de saúde relatam ainda outra dificuldade: muitos pacientes resistem a aceitar que o problema esteja ligado à cannabis, especialmente quando fazem uso terapêutico ou acreditam que a substância ajuda a controlar náuseas. Essa resistência atrasa o diagnóstico e dificulta o abandono do consumo, etapa considerada essencial para que os sintomas deixem de ocorrer.



