Por Luiz F. Nachtigall | MetSul Meteorologia
Nesta semana, uma poderosa corrente de vento de alta velocidade foi observada sobre o estado do Rio Grande do Sul, atuando em altitudes semelhantes às em que os aviões comerciais voam. Imagens de satélite e dados obtidos por sondagens atmosféricas revelaram a presença de ventos intensos, chegando a 270 km/h, a aproximadamente 12 mil metros acima do solo na manhã de segunda-feira. Essa corrente de jato, claramente visível nas imagens de satélite, estende-se desde a costa Norte do Chile, passando a Oeste de Antofagasta, até o Oceano Atlântico, ao longo da costa do Rio Grande do Sul.
Essa intensa corrente de jato em altitudes elevadas exerce influência direta sobre as condições climáticas, afetando o vento e a pressão atmosférica em sua área de atuação. Essas alterações têm consequências significativas nas condições do tempo próximo à superfície, como a formação de áreas de alta e baixa pressão. Nesta semana, em particular, essa corrente de jato intensa tem influenciado o fortalecimento de uma área de baixa pressão, prevista para se tornar um ciclone extratropical de grandes proporções e intensidade sobre o Sul do Brasil.

A corrente de jato é comparada a um aspirador de pó, pois a pressão do sistema é um indicativo da força do vento e das condições tempestuosas. Ela é caracterizada por ventos muito fortes e estreitos, que se estendem por milhares de quilômetros de comprimento e centenas de quilômetros de largura. Normalmente, essas correntes de ar rápido são encontradas a aproximadamente 30.000 pés (9.144 metros) acima da superfície da Terra e são causadas pelo aquecimento atmosférico e pela rotação do planeta.
Diariamente, são lançados balões meteorológicos a partir de aeroportos e bases aéreas no Rio Grande do Sul, equipados com sondas que coletam dados atmosféricos à medida que os balões sobem. Essas informações, conhecidas como sondagens, revelaram a presença de uma corrente de jato intensa sobre o estado. Em Porto Alegre, os dados indicaram ventos de 147 nós (272 km/h) a uma altitude de 12,3 mil metros. Em Santa Maria, os ventos atingiram 144 nós (267 km/h) a 12,5 mil metros de altitude, enquanto em Uruguaiana foram registrados ventos de 141 nós (261 km/h) a 12 mil metros acima do solo. É importante ressaltar que esses ventos ocorrem em altitudes elevadas, não na superfície. Enquanto os ventos atingiam velocidades acima de 270 km/h a 12 mil metros sobre Porto Alegre, os ventos na superfície eram fracos, inferiores a 10 km/h.
Em média, as correntes de jato viajam a cerca de 170 km/h, mas durante o inverno, quando há uma maior diferença de temperatura entre massas de ar quente e frio, essas correntes podem atingir velocidades superiores a 400 km/h. Além da corrente de jato polar, que acompanha o ar frio, existe também uma corrente de jato subtropical, mais fraca, sobre o Rio Grande do Sul. Essa corrente subtropical está localizada aproximadamente a 30°N ou 30°S (latitude de Porto Alegre) e é mais comum de ser observada durante o inverno, quando o contraste de temperatura nos subtrópicos é suficientemente forte para gerar ventos de jato. Portanto, atualmente, as correntes de jato intensas em todo o mundo estão concentradas no Hemisfério Sul, onde é inverno e a diferença de temperatura entre massas de ar quente e frio é maior.
Corrente de jato influenciará na formação do ciclone
A influência da intensa corrente de jato em altitudes médias da América do Sul será crucial para o desenvolvimento de um ciclone extratropical no Sul do Brasil durante a segunda metade desta semana. Esse sistema climático é esperado para trazer chuvas intensas e ventos muito fortes a intensos, podendo causar transtornos e danos significativos. Além disso, uma corrente de jato em baixos níveis, localizada a cerca de 1.500 metros acima do solo, estará transportando ar quente e acelerando o contraste térmico, o que contribuirá para a formação desse ciclone.
Os dados atuais indicam que a corrente de jato intensa sobre a região sul do Brasil está atuando nas fronteiras entre massas de ar mais quentes ao norte e mais frias ao sul, gerando instabilidade nessa faixa de transição entre diferentes características atmosféricas.
Na quarta e quinta-feira, espera-se que uma baixa pressão atmosférica em níveis baixos e altos se desenvolva sobre o Rio Grande do Sul, ainda sobre o continente. A presença de ventos intensos em altitudes contribuirá para a intensificação desse sistema de baixa pressão, resultando em um ciclone mais poderoso.
Consequentemente, é provável que grande parte do Rio Grande do Sul experimente ventos superficiais entre 60 km/h e 90 km/h durante a quarta e quinta-feira, com alguns pontos podendo registrar ventos próximos ou acima de 100 km/h. A mesma situação pode ocorrer no Sul e Leste de Santa Catarina, onde também é possível que ocorram ventos fortes a intensos, com rajadas acima de 100 km/h em certas áreas, especialmente na costa e nas montanhas do Planalto Sul.



