A poderosa tempestade Daniel, que tragicamente ceifou a vida de mais de 6.000 pessoas na cidade líbia, deixou uma marca profunda no Deserto do Saara, resultando na formação de lagos que agora são visíveis do espaço.
Essas mudanças notáveis foram capturadas pelo satélite Sentinel 2 do programa europeu Copernicus, que comparou imagens do deserto em duas datas diferentes: antes e depois da tempestade.
Na imagem inicial, o terreno desértico ao sul da Cirenaica, a parte oriental da Líbia, aparecia totalmente coberto por areias do deserto, com apenas alguns traços de cursos d’água.
Na segunda imagem, tirada após a passagem da Tempestade Daniel, pode-se observar esses canais inundados cruzando o deserto e lagos se estendendo por quilômetros na paisagem antes árida.
A situação destaca a gravidade da tempestade que rompeu barragens na cidade de Derna, que enfrenta uma guerra civil paralisada e a ausência de um governo central. As autoridades temem que o número de mortos possa aumentar significativamente, uma vez que mais de 11.000 pessoas ainda estão desaparecidas, e algumas cidades permanecem inacessíveis para as equipes de resgate. A situação é tão crítica que levanta preocupações sobre uma possível crise de saúde pública devido ao número de corpos em Derna.
Inundações sem Precedentes no Saara
O Saara é uma das regiões mais secas do mundo, recebendo pouca chuva anualmente em sua vasta extensão que se estende pelo continente africano. Quando a chuva ocorre, geralmente é resultado de condições meteorológicas altamente anômalas, como sistemas atmosféricos de baixa pressão ou, como neste caso, o ciclone Daniel.
Em 2015, o Saara Ocidental, um território ocupado pelo Marrocos e reivindicado pela Frente Polisário, sofreu inundações massivas no deserto em circunstâncias igualmente excepcionais.
Aproximadamente 2,5 milhões de pessoas habitam o Deserto do Saara, predominantemente formado por nômades Tamazight e Berberes que se deslocam entre locais nas dunas, dependendo das estações. Além disso, outras comunidades vivem em assentamentos permanentes próximos a fontes de água, como oásis.
Inundações súbitas no Saara podem representar desafios sérios, uma vez que a região não está preparada para lidar com grandes volumes de água. Isso pode resultar em inundações, erosão do solo e outros danos às comunidades locais e à infraestrutura.
A Visão de Criar um Mar Interior no Saara
O Saara apresenta numerosas áreas com altitudes abaixo do nível do mar devido à existência de lagos no passado, tornando o terreno suscetível a inundações. No entanto, essas inundações são raras devido aos baixos níveis de precipitação na região.
Desde o século XIX, cientistas exploram a ideia de criar um mar interior no Deserto do Saara. Esse conceito foi proposto várias vezes por diferentes cientistas e engenheiros e permanece um tópico de discussão hoje.
O objetivo seria introduzir ar úmido, chuva e agricultura no coração do deserto, reduzindo a dependência do Nilo e do Mediterrâneo. Nos últimos anos, a ideia de inundar o Deserto do Saara para combater as mudanças climáticas e o aumento do nível do mar ressurgiu na comunidade científica.
É importante ressaltar que várias comunidades veem o deserto (ou Ténéré) como seu modo de vida e lar, onde vivem há milhares de anos, incluindo os povos Tamazight e Berberes.



