One Love: Bob Marley, por Rafa Gomes
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Foto: Divulgação

One Love: Bob Marley, por Rafa Gomes

“A história da maior lenda do Reggae até hoje! Porém, peca em contar mais está linda trajetória”

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O Porto Alegre 24 Horas conferiu a cinebiografia da lenda do Reggae Bob Marley. Se todo filme já começa com o desafio de ser bom, os de astros da música precisam subir alguns degraus a mais por lidarem com a difícil missão de retratar alguém digno do título de ícone.

 

A fórmula da cinebiografia perfeita nestes casos ainda é um mistério! Muitas se tornam memoráveis outras fracassam. Dirigido por Reinaldo Marcus Green, uma escolha acertada dada o sucesso de King Richard: Criando Campeãs, One Love merece crédito por fugir um pouco da estrutura convencional de infância à fama, focando num período específico da vida do maior nome do reggae, quando em poucos anos ele precisou deixar seu país natal e uma onda aparentemente eterna de  violência, encontrar o som para um disco inédito e, eventualmente, receber o diagnóstico de câncer de pele. Há flashbacks para seus anos mais novos, e estes figuram entre as cenas menos inspiradas do longa, mas estamos com Marley no seu auge, e em alguns sentidos, nos seus baixos mais baixos.

 

Mas apesar do bom esforço de Green, Bob Marley: One Love não foge das armadilhas desse gênero. Não só vemos diferentes elementos de sua vida, como a fé, infidelidade, genialidade musical e paternidade, tratados como tópicos a serem abordados, e não fonte de drama e história, como também, por mais confortável que Kingsley Ben-Adir aparente esta no papel principal,  não é nada fácil de acertar, nunca pensamos estar acompanhando o verdadeiro Bob Marley.

 

Talvez isso seja impossível. Fácil com certeza não é. Toda vez que tratamos de uma pessoa cuja personalidade é tão conhecida quanto sua arte, tentar reproduzi-la pode facilmente resultar em algo melhor descrito como imitação, e não uma recriação. Ben-Adir até chega perto, pelo seu carisma e sorriso fácil, e particularmente por como sua fisicalidade enche a tela nas cenas de ensaios e shows, mas a voz de Marley* ainda está lá, nos lembrando do vale entre intérprete e ator.

 

Essa é umas decisões mais difíceis encaradas por filmes como esse. Ben-Adir canta bem em situações menores ensaios e composições, podemos dizer que seu timbre até lembra o dono da voz.  mas todo show pertence a Marley, e isso gera uma rachadura em nossa mente. Sabemos que o ator não está cantando. Por outro lado, o maior apelo de longas como One Love é ir ao cinema ouvir suas músicas favoritas num bom sistema de som.

O astro, porém, não é o principal problema. E nem Lashana Lynch, que encontra e aproveita cada pingo de humanidade em Rita Marley na sua atuação, mesmo com as  ausências do roteiro,  tal superficialidade é problemática dada a especificidade do discurso de Marley, um pacifista que eventualmente se tornou inseparável de sua própria mensagem.

O que Marley pregou, uma insistente recusa em aceitar o menor de dois males e a violência no mundo, ainda detém poder, mas isso vem mais de nosso conhecimento prévio das letras de “War”, “Redemption Song” e outras canções presentes no longa. Essas e outras músicas, aliás, também figuram em One Love quase como fanservice, e não como criações monumentais. Apenas “Redemption Song” consegue uma cena digna de seu status.

É um momento mais quieto, mais íntimo e mais familiar, onde Green deixa o ar entre Ben-Adir e Lynch fluir de maneira natural, e não almeja uma atmosfera grandiosa. Isso ele reserva para os shows, e a despeito do uso interessante de imagens surrealistas como campos em chama e armas no meio da audiência, essas sequências são irregulares demais para arrepiar como o diretor deseja.

Está claro que Green, e todos envolvidos na produção, estão com o coração no lugar certo. Dos sotaques carregadíssimos dos atores (nos EUA, há gente pedindo legendas para um filme inteiramente em inglês) às diversas conversas sobre Jah Rastafari, One Love não pinta uma figura que não existiu, mas tão pouco acerta detalhes o suficiente para parecer um retrato fiel. O escopo é grande demais para a execução. Assim  só há um Bob Marley. Ele não está nesse filme. Só algumas lapsos de quem ele foi, no geral o filme cumpri a sua missão apresentar um ícone a um público mais Jovem que talvez não tiveram oportunidades de conhecer seu legado.

 

Bob Marley: One Love estreia nos cinemas brasileiros em 15 de fevereiro de 2024, agora basta conferir nós cinemas, com melhor som possível.

 

Crítica — Rafa Gomes.

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