Porto Alegre acordou nesta sexta-feira atônita e apavorada com a tragédia que vitimou mais de 20 pessoas, sendo 10 de forma fatal. O incêndio na pousada Garoa na Avenida Farrapos é daqueles fatos que marcam, com tristeza, a história da cidade, que já foi conhecida como Cidade Sorriso.
Entre 2021 e 2022, em períodos de trégua da pandemia de Covid-19, filmamos o documentário “Cidadãos de Rua – Eles têm voz”, para a produção do qual fomos contratados pela ONG Centro Social da Rua. Como muitas das pessoas que viviam à época nestas condições em Porto Alegre haviam sido alocadas em pousadas da rede Garoa, estivemos em sete delas.
Na época, em razão da produção do documentário, visitamos pousadas Garoa nas ruas José do Patrocínio, Leopoldo Bier, Sete de Setembro, Benjamin Constant, Jerônimo Coelho e duas na Avenida Farrapos, uma delas a que foi palco da tragédia deste 26 de abril.
Não sou especialista, por isso, não serei conclusivo em avaliações sobre possíveis relações entre o que vi na época e o ocorrido nesta madrugada. Em vez disso, procurarei fazer questionamentos que possam provocar reflexões. Chamou-se atenção a quantidades de dormitórios montados nos imóveis a partir de compensados e outros tipos de madeira aparentemente de fácil combustão.
Numa das pousadas da época, localizada na Avenida Benjamin Constant, entrevistamos uma idosa que morava num dormitório desses, no subsolo, com apenas uma única escada como forma de saída do local. Logo, sem saída de emergência. Não podemos esquecer também que em novembro de 2022, ou seja, há um ano e meio, houve um incêndio na pousada da Rua Jerônimo Coelho, que resultou em uma morte e em 11 feridos.
Meus questionamentos são relativos às condições físicas e estruturais das pousadas: será que, por si só já não indicavam o risco de uma tragédia? Também: o incêndio na Rua Jerônimo Coelho não ligou a luz de alerta das autoridades responsáveis? Ainda mais levando-se em conta que a Prefeitura de Porto Alegre mantém um contrato com a pousada, para acolhimento de pessoas em situação de vulnerabilidade, com valores que, atualmente, passam de R$ 2,7 milhões anuais.
*As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Porto Alegre 24 Horas.



