Conheça o programa secreto de Israel que pode ter 90 bombas atômicas
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Foto: Freepik/ilustrativa

Conheça o programa secreto de Israel que pode ter 90 bombas atômicas

Israel nunca reconheceu, nem negou, ter bombas atômicas, mas é o único país do Oriente Médio a não assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP)

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Apesar de condenar veementemente qualquer possibilidade do Irã desenvolver armas nucleares, Israel é apontado por diversas fontes como detentor de um programa nuclear secreto desde a década de 1950. Estimativas da Federação de Cientistas Americanos e da Associação de Controle de Armamentos, ambas dos Estados Unidos, indicam que o país possui pelo menos 90 ogivas atômicas — número que, segundo outras fontes, pode ser significativamente maior.

Israel nunca admitiu oficialmente possuir armamento nuclear, tampouco negou. Também é o único país do Oriente Médio que não assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), o que o isenta de inspeções pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), contrariando apelo feito pelo Conselho de Segurança da ONU desde 1981.

Início do programa e apoio externo

Segundo o historiador Luiz Alberto Moniz Bandeira, no livro A Segunda Guerra Fria, Israel iniciou a construção de sua usina nuclear em Dimona antes de 1958, por meio do projeto Soreq Nuclear Research Center, operado pela Comissão de Energia Atômica de Israel (IAEC). O programa teria contado com ajuda significativa da França, que forneceu materiais atômicos e cientistas.

Os primeiros reatores teriam sido fornecidos pelos EUA no âmbito do programa “Átomos para a Paz”, mas segundo relatos históricos, a construção das bombas começou sem o consentimento formal de Washington. A CIA só teria identificado a instalação anos depois — “se é que já não sabia antes”, ironizou Bandeira.

Silêncio estratégico e denúncias internas

O ex-técnico nuclear israelense Mordechai Vanunu foi um dos primeiros a revelar detalhes do suposto programa atômico de Israel. Em entrevista ao Sunday Times em 1986, Vanunu descreveu o funcionamento interno da instalação nuclear em Dimona. Por causa disso, foi condenado por traição e espionagem, cumpriu 18 anos de prisão — 11 deles em regime de solitária — e vive até hoje com restrições de liberdade.

“Minha intenção foi informar o mundo. Não foi traição, foi um ato de consciência”, declarou Vanunu à BBC após sua libertação.

Outros relatos apontam que, ainda nos anos 1960, Israel já teria produzido suas primeiras bombas atômicas com urânio enriquecido contrabandeado dos EUA. Em 2008, o ex-presidente americano Jimmy Carter estimou que o país já teria ao menos 150 ogivas nucleares — outras fontes falam em até 300.

Ausência de fiscalização internacional

Desde 1981, após o bombardeio israelense ao reator Osirak, no Iraque, o Conselho de Segurança da ONU apelou para que Israel colocasse suas instalações nucleares sob inspeção da AIEA. O pedido nunca foi atendido. Em 2009, a AIEA reiterou o apelo, solicitando que o país aderisse ao TNP, mas o governo israelense alegou que a decisão sobre tratados internacionais é um direito soberano.

“O programa nuclear de Israel vive em uma zona cinzenta. É o único no mundo que não está sujeito a qualquer tipo de inspeção da ONU ou da AIEA”, aponta o cientista político Ali Ramos, especialista em geopolítica do Oriente Médio.

Para o professor de relações internacionais Robson Valdez, do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), há uma clara assimetria nas cobranças internacionais.

“Israel desenvolve seu arsenal nuclear à margem do direito internacional, enquanto seus adversários são rigidamente fiscalizados. É uma política de dois pesos e duas medidas”, criticou.

Disuasão regional e expansão territorial

Analistas destacam que o poderio nuclear de Israel teria desempenhado papel fundamental na consolidação de sua presença territorial. Em 1973, durante a Guerra do Yom Kippur, o então ministro da Defesa, general Moshe Dayan, colocou o arsenal nuclear em prontidão. O gesto, segundo historiadores, visava pressionar os EUA a intervir diplomaticamente diante do avanço sírio e egípcio.

“Dayan não queria lançar as bombas, mas provocar uma reação geopolítica”, escreveu Moniz Bandeira.

Criado em 1948, Israel expandiu significativamente seus territórios após a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Desde então, o país tem mantido ocupações na Cisjordânia, em Gaza e em Jerusalém Oriental, enquanto continua a recusar qualquer tipo de transparência quanto ao seu suposto arsenal nuclear.

*Agência Brasil

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