Popularmente conhecido por seu uso tópico no combate à calvície, o minoxidil tem ganhado cada vez mais atenção da comunidade médica na versão oral de baixa dosagem (LDOM). Embora ainda não esteja previsto em bula para essa finalidade, o uso off-label do medicamento tem demonstrado bons resultados para alopecia androgenética, com efeitos visíveis entre três e seis meses de tratamento.
Para oferecer uma base mais sólida para a prática clínica, 43 dermatologistas especialistas em cabelos de 12 países participaram de um estudo Delphi — técnica que busca consenso entre especialistas a partir de rodadas de perguntas. O trabalho resultou em um guia publicado no JAMA Dermatology, com 76 recomendações consensuais sobre uso, indicações, precauções e monitoramento do minoxidil oral.
“Criamos um guia prático baseado não só na experiência clínica, mas também na análise da literatura científica mundial”, afirma a dermatologista Isabella Doche, uma das coautoras do artigo. Ela alerta, no entanto, que o acompanhamento médico é essencial antes de iniciar o tratamento.
De remédio para hipertensão a aliado contra a calvície
O minoxidil foi desenvolvido nos anos 1950 como um antihipertensivo, em doses que variavam de 20mg a 80mg. Com o tempo, foi substituído por medicamentos mais modernos. No entanto, chamou atenção por provocar um efeito colateral inusitado: o crescimento de pelos corporais.
Nos anos 1980, passou a ser usado topicamente para tratar a calvície. Apesar da eficácia, muitos pacientes relataram irritações no couro cabeludo, o que motivou pesquisas sobre a retomada do uso oral em doses muito menores. A partir dos anos 2000, o australiano Rodney Sinclair impulsionou essa abordagem.
Quem pode usar e em que doses
O consenso internacional recomenda o uso do minoxidil oral para diversos tipos de alopecia, incluindo cicatriciais e não cicatriciais. As dosagens variam de acordo com sexo e idade:
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Mulheres: entre 1,25mg e 5mg ao dia — resultados clínicos já são eficazes com apenas 1mg a 1,5mg.
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Homens: entre 2,5mg e 5mg ao dia.
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Adolescentes (12 a 17 anos): meninas iniciam com 0,6mg e meninos com 1mg, podendo chegar a 2,5mg e 5mg, respectivamente.
O uso em crianças menores de 12 anos ainda é considerado excepcional, sem consenso entre os especialistas.
Mas por que o uso oral é indicado em vez do uso tópico? Segundo os pesquisadores, o minoxidil oral é uma opção para pacientes que apresentam hipersensibilidade ou alergias no couro cabeludo. Além disso, a versão tópica depende de uma aplicação mais frequente, e o resultado pode ser menos eficaz. “Ela não é agradável cosmeticamente, por isso muitas vezes a aderência ao tratamento é ruim”, acrescenta Isabella.
No Brasil, ainda não há versões industrializadas do minoxidil oral em comprimidos de 5mg, como acontece em outros países. Portanto, a prescrição requer manipulação da dose exata. “Existe um alerta muito importante da vigilância dos órgãos reguladores do Brasil quanto à procedência dessas medicações: que sejam feitas em farmácias credenciadas, autorizadas e sempre com acompanhamento de um médico”, finaliza a dermatologista.
*Por Gabriela Nangino | Jornal da USP



