A Polícia Civil concluiu as investigações sobre o guru espiritual Adir Aliatti, de 70 anos — conhecido como Prem Milan — e fundador da comunidade Osho Rachana, localizada em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Ele foi indiciado por 13 crimes, que incluem tortura, charlatanismo, estelionato e violência sexual mediante fraude. Os filhos, André Blos Aliatti e Amanda Blos Aliatti, também foram indiciados e responderão pelos mesmos delitos. O caso foi encaminhado ao Ministério Público, que decidirá se apresentará denúncia à Justiça.
Segundo as apurações, mais de 40 pessoas foram vítimas do grupo, e o guru teria desviado cerca de R$ 20 milhões, além de provocar um prejuízo de R$ 4 milhões em operações financeiras fraudulentas. Parte do dinheiro arrecadado seria utilizada para viagens de luxo e apostas online.
Exploração e práticas abusivas
As investigações revelaram que os seguidores pagavam valores entre R$ 8 mil e R$ 12 mil por pacotes de “imersão espiritual”, além de mensalidades para permanecer na comunidade. Muitos relataram que eram pressionados a contrair empréstimos bancários e entregar o dinheiro ao grupo, sob o pretexto de contribuir com as atividades espirituais.
Os participantes também denunciaram atos de tortura física e psicológica, abusos sexuais, e discriminação racial e de gênero. O grupo ainda promovia práticas de “cura gay” e outras supostas terapias alternativas sem qualquer registro ou autorização sanitária.
Prisões e medidas cautelares
A Operação Namastê, deflagrada pela Polícia Civil em dezembro de 2024, cumpriu mandados de busca, apreensão e bloqueio de bens. Embora a polícia tenha pedido a prisão preventiva de Aliatti e dos filhos, o Judiciário indeferiu o pedido, impondo tornozeleira eletrônica, entrega dos passaportes e proibição de contato com as vítimas.
Segundo a delegada Jeiselaure de Souza, responsável pelo inquérito, a operação revelou uma “sofisticada estrutura de manipulação espiritual e emocional, em que a vulnerabilidade das pessoas foi explorada de forma sistemática”.
A comunidade Osho Rachana
Fundada em 2005, a comunidade foi instalada em um sítio de 42 hectares no interior de Viamão, com inspiração nos ensinamentos do indiano Osho, conhecido como “guru do sexo”. O local chegou a abrigar cerca de cem pessoas, entre profissionais de diferentes áreas e nacionalidades. O cotidiano incluía trabalhos agrícolas, produção de pães e artesanatos, e atividades de meditação e sexo livre, sempre sob a supervisão de Aliatti.
Os 13 crimes atribuídos ao guru
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Associação criminosa
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Tortura psicológica
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Crime contra a economia popular (pirâmide financeira)
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Redução à condição análoga à de escravo
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Estelionato
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Violência sexual mediante fraude
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Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente
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Exposição de criança ou adolescente a vexame ou constrangimento
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Falsificação de produtos terapêuticos ou realização de terapias não autorizadas
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Charlatanismo
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Curandeirismo
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Impedimento à convivência familiar e social
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Injúria racial
Defesa
O advogado Rodrigo Oliveira de Camargo, que representa Aliatti, informou que a defesa só se manifestará após ter acesso ao relatório completo do indiciamento. A reportagem segue tentando contato com os advogados dos filhos.
Com informações G1