Seis anos após o incêndio que matou dez jovens das categorias de base do Flamengo, em 2019, a Justiça do Rio de Janeiro absolveu, em primeira instância, os sete réus acusados de incêndio culposo e lesão grave. A decisão, proferida pelo juiz Tiago Fernandes Barros, da 36ª Vara Criminal, considerou o processo improcedente e destacou a ausência de provas suficientes para individualizar responsabilidades. O caso ainda cabe recurso do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), que havia pedido a condenação de todos os acusados após ouvir mais de 40 testemunhas.
Entre os absolvidos estão Márcio Garotti, ex-diretor financeiro do Flamengo, Marcelo Maia de Sá, ex-diretor adjunto de patrimônio, e os engenheiros Danilo Duarte, Fábio Hilário da Silva e Weslley Gimenes, além de Cláudia Pereira Rodrigues, responsável pela assinatura dos contratos da empresa NHJ, e Edson Colman, sócio da empresa que fazia a manutenção dos aparelhos de ar-condicionado. O juiz ressaltou que as condutas atribuídas aos réus não se enquadram nas funções exercidas por eles e que “a cadeia causal apresenta natureza difusa, envolvendo múltiplos fatores técnicos e estruturais, o que inviabiliza a individualização de culpa penal”.
O incêndio ocorreu em 8 de fevereiro de 2019, nas instalações do centro de treinamento George Helal, conhecido como Ninho do Urubu, no Rio de Janeiro. O fogo começou em um contêiner adaptado como alojamento para atletas da base, supostamente causado por um curto-circuito em um ar-condicionado. O local não tinha alvará de funcionamento e, na época, 26 jovens dormiam no espaço — dez morreram e três ficaram feridos. A tragédia gerou comoção nacional e levantou questionamentos sobre as condições de segurança das instalações esportivas no país.
Durante o processo, 45 testemunhas foram ouvidas entre 2023 e 2024, incluindo sobreviventes, ex-dirigentes e técnicos do clube. A sentença de 227 páginas destaca que, embora o episódio tenha sido “uma tragédia sem precedentes no futebol brasileiro”, não ficou comprovada a responsabilidade direta dos acusados pelo incêndio. Em fevereiro deste ano, o Flamengo também anunciou o encerramento das pendências judiciais relacionadas à indenização das famílias das vítimas, após firmar acordo com os pais do goleiro Christian Esmério, a última família que ainda não havia sido indenizada.
O caso, que se arrasta há mais de meia década, ainda pode ter novos desdobramentos caso o MPRJ recorra da decisão. A absolvição reacende o debate sobre a responsabilização institucional e a segurança em centros de treinamento no país, especialmente após o episódio que deixou marcada a história do esporte brasileiro.