Um julgamento marcado por emoção e reflexões sobre o sentido da justiça terminou de forma incomum na 2ª Vara do Júri da Capital. Jani Francisco do Amaral, de 58 anos, acusado de tentar matar o próprio filho em 2017, foi absolvido, não por falta de provas, mas por um pedido de perdão feito pela vítima.
O próprio filho, Guilherme Santos do Amaral, de 30 anos, havia pedido na véspera do julgamento que o pai fosse perdoado. O apelo partiu de um contexto emocional: Guilherme não queria ampliar o sofrimento da avó, mãe do réu, uma senhora de 80 anos que empurrou a cadeira de rodas do filho até o plenário.
O crime ocorreu no bairro Bom Jesus, quando Guilherme, então com 22 anos, sobreviveu a golpes de facão desferidos pelo pai. Durante o processo, o acusado sofreu um AVC, ficou paraplégico e passou a depender dos cuidados do próprio filho — o mesmo que, anos depois, pediu que ele fosse perdoado.
A cena no tribunal foi de forte impacto. A defensora pública Tatiana Boeira, que representou o acusado, fez um apelo por clemência em nome da idosa, dizendo que “essa mãe não merecia mais um sofrimento”.
O pedido sensibilizou os jurados, que decidiram, por quatro votos a dois, absolver o réu. O Ministério Público havia pedido condenação, mas a juíza responsável registrou que o veredito foi por clemência, uma possibilidade rara, porém prevista no Tribunal do Júri.
Segundo a defensora, o caso representa um exemplo de justiça restaurativa, em que o perdão e o reconhecimento do erro são considerados mais transformadores do que a punição.
Um caso que expõe o lado mais humano, e também o mais complexo da Justiça: quando o perdão fala mais alto do que a punição.



