O Conselho Universitário (Consun) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) aprovou, nesta sexta-feira (7), a concessão do título de Doutor Honoris Causa ao rapper, cantor e compositor Leandro Roque de Oliveira, conhecido artisticamente como Emicida. A decisão reconhece que sua trajetória ultrapassa o campo da música, consolidando-se como um projeto intelectual, educativo e de impacto social, especialmente significativo para a juventude negra e periférica.
Segundo o Parecer nº 248/2025, aprovado pelo Consun, a obra de Emicida expressa “uma pedagogia contemporânea que inspira o debate público sobre a luta antirracista na Universidade e se consolida como referência de pesquisa acadêmica em diferentes áreas do conhecimento”.
A proposta de outorga foi elaborada pelo Coletivo de Estudantes Negros da Pedagogia (Cenp), em parceria com o projeto UFRGS Negra, o Movimento Negro Unificado (MNU) no Rio Grande do Sul e o Diretório Central de Estudantes (DCE), sendo encaminhada ao Conselho pela Faculdade de Educação (Faced). O parecer ressalta a potência transformadora da cultura hip-hop, o reconhecimento dos saberes produzidos na diáspora africana no Brasil e o papel central da juventude negra na construção de um país mais justo e inclusivo.
A cerimônia de entrega do título está marcada para o dia 29 de novembro, em sessão solene do Conselho Universitário, com transmissão ao vivo pela UFRGS TV. Segundo a instituição, informações sobre a distribuição de ingressos serão divulgadas em breve.
O documento também apresenta um panorama da trajetória do homenageado. Nascido em 17 de agosto de 1985, Emicida é filho de Jacira Roque de Oliveira, conhecida como Dona Jacira, e cresceu em uma família de baixa renda na zona Norte de São Paulo. Desde a adolescência, dedicou-se à escrita de rimas e, em 2006, conquistou a primeira edição da Batalha do Santa Cruz, tradicional evento do hip-hop paulistano. Na ocasião, recebeu o nome artístico Emicida, junção de “MC” e o sufixo “cida” — um neologismo que representa o poder da palavra como instrumento de resistência e transformação.
De acordo com o Consun, a influência de Emicida já é reconhecida no meio acadêmico, com dezenas de teses, dissertações e trabalhos de conclusão de curso dedicados à análise de sua produção artística. Na própria UFRGS, a cultura hip-hop é tema recorrente em projetos de ensino, pesquisa e extensão, refletindo o impacto do artista na formação crítica e cultural de estudantes.
Entre os trabalhos recentes, destaca-se o TCC “Tudo que nóiz tem é nóiz: rap como construção de identidade coletiva negra em Amarelo, de Emicida”, apresentado em 2023 no curso de História do IFCH/UFRGS, que reforça a relevância do rapper como referência na reflexão sobre identidade, cultura e educação.



