Do discurso à barbárie: o que a neurociência explica sobre o caso Thiago Schutz, o “Calvo do Campari”
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Foto: Reprodução/Instagram / BBC News Brasil

Do discurso à barbárie: o que a neurociência explica sobre o caso Thiago Schutz, o “Calvo do Campari”

A recusa que acende a fúria: o que a neurociência mostra sobre homens que não suportam limites.

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Neste último sábado, a internet foi tomada pela notícia da prisão de Thiago Schutz, o influenciador conhecido como “Calvo do Campari”. Famoso por pregar um discurso de suposta racionalidade masculina e controle emocional, Schutz foi preso em flagrante por violência doméstica após agredir a namorada. O motivo? Ela recusou ter relações sexuais.

Para o público leigo, parece uma contradição: como alguém que vende a ideia de estoicismo e frieza perde o controle de maneira tão brutal? Para a psicologia e a neurociência, no entanto, o caminho entre o narcisismo ferido e a agressão física é curto e previsível.

Vamos entender o que acontece na mente de um agressor quando ele ouve um “não”.

1. A Rejeição Como Ameaça ao Ego

O primeiro ponto para compreender a mentalidade do agressor é entender como ele processa a rejeição. De acordo com o boletim de ocorrência, a violência começou quando a parceira negou sexo.

Para uma mente saudável, isso é um limite a ser respeitado.

Para uma mente com traços narcisistas ou dominadores, isso é interpretado como um insulto pessoal.

Um estudo abrangente conduzido por Kjærvik e Bushman (2021), que analisou mais de 400 pesquisas, concluiu que há uma ligação direta e robusta entre narcisismo e agressão.

O motivo? O chamado “ego ameaçado”.

Quando a autoimagem de superioridade do indivíduo é desafiada — neste caso, pela recusa da mulher, que ele julga dever submissão — o cérebro não processa tristeza, mas fúria. A agressão física se torna a ferramenta para tentar “restaurar” essa superioridade perdida.

2. A Objetificação e a Desumanização da Parceira

O segundo fator é a objetificação. O discurso que Schutz propagava com frequência tratava relacionamentos como transações de mercado, reduzindo mulheres a “ativos” ou “passivos”.

Quando você tira a humanidade de alguém, vê-la como um objeto torna muito mais fácil agredi-la.

Pesquisas recentes, como a de Puente-Martínez et al. (2018), mostram que o chamado sexismo hostil — a crença de que mulheres manipulam ou tentam controlar homens — é um dos maiores preditores de violência doméstica.

Na mente do agressor, a recusa da parceira não é um direito dela, mas uma “quebra de contrato”.

A neurociência demonstra que essa crença desliga a empatia no cérebro. O córtex pré-frontal, responsável por frear impulsos violentos, é inibido por distorções cognitivas que fazem o agressor acreditar que tem o “direito” de punir a mulher.

3. A Escalada da Violência: Da Ameaça à Agressão Física

O caso de Schutz ilustra perfeitamente o processo de escalada da violência. Ele já respondia a processos por ameaça — o famoso caso do “processo ou bala”.

Muitos acreditam que ameaças verbais são apenas palavras, mas a ciência diz o contrário:

o comportamento violento raramente começa com um espancamento; começa com a intimidação.

Quando a intimidação verbal falha — ou seja, quando a vítima não se submete — o agressor sobe um degrau e parte para a violência física.

É o colapso do controle inibitório: aquele que pregava “controle emocional” na internet mostrou não ter nenhum na vida real. Ao ser contrariado, agiu movido pelo sistema límbico, a parte mais primitiva e impulsiva do cérebro.

4. O “Não” Como Desencadeador Para Egos Frágeis

O episódio do “Calvo do Campari” ensina uma verdade dura: discursos bonitos na internet não alteram a biologia do comportamento.

A agressão contra Laís Angeli Gamarra não foi um “acidente” ou um “momento de loucura”.

Foi o resultado previsível de uma mentalidade que não tolera frustração.

Para um ego frágil, o “não” é percebido como provocação, humilhação e ameaça — e não como um direito básico da outra pessoa.

Conclusão: Entender a Ciência é Proteger Vidas

Compreender a neurociência por trás desses comportamentos é vital para prevenção e educação.

Quem não respeita a palavra, fatalmente não respeitará o corpo.

A sociedade precisa aprender a reconhecer os sinais antes que eles evoluam para agressões físicas — porque, como a ciência mostra, o caminho é curto, previsível e trágico.

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