Morro do Osso: Um refúgio em meio ao caos urbano de Porto Alegre

Morro do Osso: Um refúgio em meio ao caos urbano de Porto Alegre

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Do alto do platô do Morro do Osso, Porto Alegre parece outra cidade. Nada de buzinas, nada de sirenes; é possível ficar quase que em silêncio absoluto, salvo o piar de algum pássaro. Mas a vista não engana. O que se vê lá de cima é uma metrópole, com seus arranha-céus, engarrafamentos e poluição. Em meio a tudo isso, o Guaíba surge imponente costeando a cidade, e, com a ajuda do pôr do sol, torna a vista mais agradável àqueles que se dispõem a descobrir esse belo recanto na Zona Sul.

O Morro do Osso é o único dos 44 existentes na Capital que conta, de fato, com uma estrutura para receber turistas. Transformado em Unidade de Conservação de Proteção Integral em 1994, ele agora é um parque natural que abriga uma diversidade de espécies da fauna e da flora, muitas delas em risco de extinção. O agendamento de uma visita orientada por biólogos ou guarda-parques torna o passeio mais interessante para aqueles que tiverem curiosidade de conhecer um pouco da história do local.

São duas trilhas acessíveis aos visitantes: uma de mata mais fechada, utilizada no trabalho de conscientização ambiental durante as caminhadas com grupos e escolas, e outra aberta e aplainada, acessível ao público em geral. Ambas vão dar no platô, a 143 metros de altitude, e têm trajetos relativamente curtos, não passando de um quilômetro e meio.

“É uma caminhada tranquila, sem grandes dificuldades. E lá em cima a vista é realmente bonita. Todo mundo que vem fica impressionado”, afirma o guarda-parques Josimar Appel, enquanto conduz a equipe de reportagem do Jornal do Comércio pela trilha mais aberta.

Aos poucos, a paisagem vai mudando, e, as altas árvores do caminho dão lugar a uma clareira. Chegamos ao platô, onde apenas um casal de namorados curte a paisagem sentado em uma grande pedra. Mas logo em seguida se houve um burburinho do lado oposto, o de mata cerrada. “É a gurizada da escola que veio para a visita guiada de hoje à tarde”, avisa o guarda.

Em poucos minutos, o cume do Morro do Osso é tomado por alunos da Escola Estadual de Ensino Fundamental Custódio de Mello, localizada no bairro Serraria. Cerca de 30 crianças sobem correndo a escada estreita. “Meu, olha só que tri!”, exclama um dos meninos, cutucando um colega e apontando para o horizonte, onde o céu e o lago se confundem. Enquanto alguns brincam de pega-pega e outros conversam entusiasmados sobre a descoberta, as amigas Ana Clara Santos, 11 anos, Bianca Pereira, 11, e Bruna da Silva, 12, preferem ficar sentadas admirando a vista. Perguntadas sobre o que estavam achando do lugar, exclamam, quase que ao mesmo tempo: “beeem legal!”

Na volta, descendo por outro trajeto, há uma enorme rocha conhecida como Pé de Deus. E é só olhar para ela para entender o motivo do nome curioso. De fato, se assemelha a um grande pé em elevação. “Parece que vai esmagar a gente, né?. Mas não tem perigo, não”, brinca Appel. “A gurizada inclusive gosta de contornar o caminho por baixo dela.”




Uma coisa que chama a atenção são as pichações. Tanto o Pé de Deus como outras rochas mostram que, apesar de isolado, o morro é alvo frequente de ações do tipo. “Se limpa num dia, no outro já está pichado de novo”, lamenta o guarda-parques. Felizmente, a maioria do público contribui para a conservação. “Dá pra dizer que 90% das pessoas deixam tudo limpo quando vão embora. Podem até fazer piquenique aqui, desde que recolham a sujeira antes de ir embora”, afirma.

‘Temos que apostar nas novas gerações para garantir a preservação’ 

Situado entre os bairros Camaquã, Cavalhada, Ipanema e Tristeza, o Parque Natural do Morro do Osso foi, até a década de 1980, alvo de exploração de pedreiras, atividade invariavelmente acompanhada por queimadas, corte de vegetação e abertura de vias para o transporte das rochas. A partir da década seguinte, o problema passou a ser a expansão urbana, com a retirada de vegetação florestal para a construção de casas e condomínios fechados. Mas isso mudou a partir de uma demanda da sociedade, como explica o administrador do parque, Silvio Souto.

“Graças ao apelo de ambientalistas e da comunidade da região, esta área se tornou uma Unidade de Conservação e está mais protegida”, afirma, enquanto mostra um auditório dentro da sede administrativa do parque no qual são realizadas palestras sobre conscientização ambiental para os alunos. “Temos que apostar nas novas gerações para garantir a preservação da natureza. Caso contrário, lugares como este serão cada vez mais raros.”

O outro lado do morro

O acesso dos visitantes ao Morro do Osso se dá pela rua Irmã Jacomina Veronese. Do outro lado, mais próximo do Guaíba, na extremidade conhecida como Sétimo Céu, vivem, desde abril de 2004, índios da etnia Kaigang, os quais reivindicaram o direito de morar na região por questões históricas, alegando que, no local, havia um antigo cemitério indígena. O guarda-parques Josimar Appel lembra que essa é apenas uma das supostas origens do nome. “São várias teorias. Uma delas diz que o pessoal subia o morro para disputar o Jogo do Osso, já que era proibido jogar a dinheiro”, exemplifica. Depois de muita confusão com a Justiça e com a prefeitura, os Kaigang conseguiram se estabelecer na região. Hoje, já contam com uma estrutura que inclui escola e posto de saúde.

Para visitar o Morro do Osso 

Situado na rua Irmã Jacomina Veronese, 170, em Porto Alegre, o Parque Natural Morro do Osso disponibiliza agendamento a instituições de ensino e grupos de pesquisa para visitas orientadas a fim de apresentar a biodiversidade do local e incentivar sua preservação. As visitas ocorrem às quartas (das 9h às 12h), às sextas-feiras (das 14h às 17h) e aos sábados (nos dois turnos). Informações pelos telefones (51) 3289-5070 / (51) 3289-5071 ou pelo e-mail [email protected].

Como chegar Não há linha de ônibus direta para o Morro do Osso. A parada mais próxima é na avenida Cavalhada. Depois, é preciso caminhar pouco mais de um quilômetro até a sede. Também é possível descer na avenida Eduardo Prado, mas a caminhada depois é um pouco mais longa. É possível estacionar nas proximidades do parque. (Jornal do Comércio)

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