No Rio Grande do Sul, apenas cerca de 39% dos candidatos passam na primeira tentativa da prova prática para a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) categoria B, que habilita para automóveis, um índice que evidencia dificuldades no processo de formação e avaliação de futuros motoristas.
Prova prática: o maior desafio
Para quem disputa a habilitação, o exame prático é considerado o estágio mais crítico. Tanto o nervosismo quanto falhas técnicas, desde esquecer a seta até interromper o motor, podem resultar em reprovação imediata. Com as novas regras nacionais, essa etapa ganhou ainda mais importância, já que a formação básica obrigatória foi significativamente reduzida.
Em 2025, dos 283.384 exames práticos realizados para categoria B no RS, só 110.519 foram aprovados na primeira tentativa. Já para quem busca habilitação de motocicleta (categoria A), o índice foi maior, cerca de 68% de aprovação.
Novo modelo de formação: menos horas, mais pressão nos exames
Até agora, o processo de habilitação no estado envolvia um currículo pedagógico robusto, com 18 horas de conteúdo teórico presencial, 16 horas de direção defensiva e cerca de 20 aulas práticas com instrutor credenciado. Com a nova resolução do Contran (Conselho Nacional de Trânsito), a carga mínima obrigatória de aulas práticas cai para apenas duas horas, e o curso teórico passa a ser digital, com menos de uma hora de duração, medidas que têm como objetivo reduzir custo e facilitar o acesso à CNH.
Representantes dos Centros de Formação de Condutores (CFCs) criticam as mudanças, alertando que a redução drástica de conteúdo pode comprometer a preparação dos candidatos. Para Vilnei Sessim, presidente do Sindicato dos CFCs no RS, a formação não pode ser tratada apenas como um caminho para passar no exame, mas sim como uma educação contínua para dirigir com segurança.
Especialistas e instrutores preocupados
Instrutores de trânsito também manifestam preocupação com o novo modelo. Para muitos, a carga maior de horas e a diversidade de situações de condução vivenciadas nas aulas eram essenciais para desenvolver habilidades e comportamento defensivo no trânsito. Sem esse preparo, segundo eles, a prova prática pode se tornar o único filtro de avaliação, com maior dependência do examinador e menos preparo real do candidato.
O papel do examinador e do Detran
O Departamento Estadual de Trânsito do Rio Grande do Sul (DetranRS) confirmou que o exame prático seguirá exigente e que os examinadores continuarão aplicando critérios rigorosos de avaliação. O órgão afirma que reforçará capacitações e padronização de procedimentos para garantir transparência e qualidade no processo de avaliação.
Impactos no dia a dia do trânsito
Especialistas em trânsito alertam que uma redução excessiva na formação de condutores pode trazer consequências para a segurança viária, uma vez que menos treinamento em situações de risco pode resultar em condutores menos preparados para o tráfego real.
O que muda para quem vai tirar a CNH
A partir de 5 de janeiro de 2026, as novas regras passam a valer no RS:
- O candidato pode iniciar o processo pela plataforma digital do governo ou diretamente nos CFCs.
- A parte teórica será feita por meio digital ou, enquanto não houver integração completa, com o modelo antigo.
- A prática obrigatória mínima será de duas horas-aula.
- O exame prático seguirá sendo aplicado conforme o modelo atual, até que o Manual Brasileiro de Exames de Direção Veicular seja atualizado.
Apesar da mudança parecer simplificar o processo, a expectativa é de que muitos candidatos acabem precisando de mais aulas práticas, além das duas horas mínimas, para se sentirem aptos a enfrentar a prova e o trânsito real com segurança.
