Homens que se identificam como heterossexuais, mas se envolvem sexualmente com outros homens, são parte de um fenômeno crescente e ainda pouco discutido: os chamados SMSM — sigla em inglês para “straight men who have sex with men” (homens heterossexuais que fazem sexo com outros homens). Para os especialistas, isso não significa, necessariamente, uma contradição. A prática sexual, explicam, é distinta da orientação sexual, que está ligada a identidade e padrões sociais enraizados. Muitos desses homens vivem relações estáveis com mulheres, não se consideram gays ou bissexuais e não se sentem em conflito com isso.
Essa flexibilidade no desejo masculino é favorecida por um contexto social mais tolerante à diversidade. O avanço da internet, o crescimento de espaços seguros para encontros e a normalização de comportamentos antes vistos como “desvios” contribuem para que esses homens experimentem o desejo de maneira menos culpada. Termos como “heteroflexível” e “heterocurioso” vêm ganhando força justamente para descrever esse tipo de experiência, em que o contato entre homens é visto mais como uma vivência pontual ou exploratória do que como uma redefinição identitária.
Estudos mostram que essa realidade é mais comum do que se imagina. Um levantamento feito pela Universidade de Nova York já em 2006 revelou que 3,5% dos homens que se consideram héteros haviam mantido relações sexuais com outros homens. As razões variam: curiosidade, desejo de novidade, impulso narcisista, frustrações afetivas com mulheres ou mesmo a necessidade de afeto e intimidade. Em alguns casos, esses homens buscam um contato físico que não encontram em relações heterossexuais tradicionais — não apenas por desejo genital, mas por uma carência emocional que raramente se permite expressar.
Para os psicólogos, não há motivo para alarme ou patologização: se essas experiências não causam sofrimento ou confusão, não há o que tratar. “Se o indivíduo está bem com isso, não existe um problema”, resume o sexólogo Pedro Villegas. Ao desvincular a prática sexual da identidade sexual fixa, especialistas abrem caminho para uma abordagem mais saudável e livre do desejo masculino — onde o importante não é o gênero de quem toca, mas a honestidade com os próprios limites e vontades.