O Porto Alegre 24h conferiu o primeiro filme solo deste personagem tão icônico dos quadrinhos e da televisão.
Com a chegada de James Gunn e Peter Safran unindo forças para revitalizar esse universo, podemos dar uma nova oportunidade às futuras produções que chegarão para os fãs ou até mesmo para os estreantes neste universo, mas não antes do lançamento de ‘The Flash’, um dos títulos mais aguardados de 2023, cujas expectativas se elevaram a níveis estratosféricos. E contrariando os céticos e os haters das adaptações da DC, a obra protagonizada por Ezra Miller, é um ótimo entretenimento que mascara temas muito profundos com uma simples e funcional narrativa super-heroica.
A trama já inicia com uma potente cena de ação, em que Barry Allen (o Flash)é chamado para socorrer as vítimas de um atentado terrorista em um hospital.
Enquanto a sequência inicial já consegue nos dar o tom do filme, ela serve também como um impulso para compreendermos as verdadeiras intenções de Barry e os traumas que carrega por muito tempo, visto que a mãe foi assassinada quando ele era apenas uma criança, e o pai levou a culpa, onde agora espera um julgamento que parece não ter um final feliz.
É a partir daí, que movido pela breve centelha de esperança em restaurar sua família, que se despedaçou por uma tragédia mal explicada, Barry se move pela angústia e pela melancolia para voltar no tempo e impedir que a mãe morra. Entretanto, o que ele não esperava é que suas ações benévolas desencadeariam uma série de eventos prenunciando a implosão do multiverso.
O longa metragem é comandado por Andy Muschietti (que alcançou fama mundial após comandar os dois capítulos do terror ‘IT – A Coisa’). Barry, dessa forma, descobre que tem uma habilidade de retornar ao passado, quebrando regras frágeis do espaço-tempo para “mexer seus pauzinhos” e garantir a sobrevivência daquela que nunca esqueceu.
É notável como o protagonista é envolto por uma cegueira justiceira que o faz esquecer do efeito borboleta, que é inclusive mencionado no longa, que o leva em uma jornada tortuosa de reparação e de saudosismo. Todavia, por mais nobres que suas intenções tenham sido, o tiro sai pela culatra e ele abre uma linha do tempo paralela à que pertence, criando uma fenda perpendicular no multiverso que premedita uma catástrofe. Toda a explicação é feita de uma forma simples e de fácil entendimento. Miller faz um trabalho aplaudível ao dar vida a duas versões de si mesmo, uma mais velha, recheada de cicatrizes e de fantasmas do passado e outra mais jovem, alheia ao que poderia ter acontecido e encantada com o que o futuro a reserva.
Entregando-se inteiramente ao papel que lhe foi confiado, Miller rouba os holofotes e é respaldado por temáticas importantes e incríveis o suficiente para que possamos nos relacionar com ele, mesmo que o Flash seja um meta-humano.
Mas ele não é o único a nos presentear com uma grande performance: temos também Sasha Calle como Kara Zor-El “Supergirl”, resgatada de uma prisão de segurança máxima e uma peça importante para o seguimento da história, ainda que não tenha tempo de tela tão sólido quanto esperávamos. E, como a cereja do bolo, Michael Keaton, ressurge 31 anos após sua última participação como Batman, em uma atuação espetacular e recheada de referências às clássicas produções de que participou, além de infundir o personagem com uma humanidade emocionante que o torna imprescindível para a conexão com o público.
O Diretor comanda esse espetáculo visual imprimindo a própria identidade, mas fazendo questão de mencionar as adaptações que vieram antes de Flash, de Batman ou da própria Supergirl. À medida que as quase duas horas e quarenta se desenrolam, é notável como o cineasta sabe o que está fazendo, guiando os atos em uma fluidez satisfatória, ainda que o bloco de encerramento seja muito arrastado. Ele, inclusive, retoma colaboração com o compositor Benjamin Wallfisch, dando espaço o suficiente para que ele misture trilhas familiares épicas e teatrais, puxando inspirações para uma cruzada heroica. Além do terceiro ato, o principal problema são os efeitos visuais, claro que é possível ignorar a artificialidade do CGI caso compremos, por completo a obra.
Mas as construções estéticas são tão falsas que quebram um pouco a magia, isso não significa que o resultado não seja positivo, pelo contrário, o roteiro nos ajuda a compreender que a ideia não é reinventar o que já existe, e sim utilizar as fórmulas a favor da obra e garantir que o público saia da sala de cinema realizado e até mesmo com vontade de rever.
O longa entrega exatamente o que vem prometendo há vários anos, configurando-se como uma das melhores entradas dessa fase final da DC conforme abre espaço para um futuro que tem tudo para encontrar sucesso. Divertido, emocionante e com muitas reflexões sobre o que significa conviver com a imutabilidade do passado, o longa merece ser visto na maior tela de cinema possível.
Agora basta correr como o Flash e garantir seu ingresso e se esbaldar com um “show” de referências do começo ao fim.
Crítica: Rafa Gomes.



