Crítica| Assassinos da Lua das Flores, por Rafa Gomes
Foto: Divulgação

Crítica| Assassinos da Lua das Flores, por Rafa Gomes

“Scorsese entrega muito além do esperado em seu novo, épico, marcante e visceral Longa-metragem.”

Compartilhe esta notícia

O Porto Alegre 24Horas conferiu o retorno de Martin Scorsese as telonas em grande estilo! Toda vez que Scorsese põe as mãos em um projeto, o mundo dos fãs da 7° arte para e volta seus olhos ao realizador. Sua carreira fala tudo que precisamos para entender o motivo de muitos considerarem Scorsese como “o grande diretor” de sua geração.

E como não poderia diferir, este longa-metragem é um desses casos, com mais de três horas de duração que se desenvolvem em um ritmo que parece um pouco lento, mas que quando o espectador percebe, já está completamente imerso na história.

O fato de se tratar de uma história real e inspirada no livro “Killers of the Flower Moon:The Osage Murders and the Birth of  the FBI”, lançado em 2017 pelo jornalista americano David Granns, fala sobre os assassinatos que aconteceram na década de 1920 no condado de Osage em Oklahoma. E a investigação que ajudou a dar destaque ao FBI, liderado por J. Edgar Hoover. Conta com a ajuda de um elenco de peso liderado por Leonardo DiCaprio (O Lobo de Wall Street), Robert De Niro (Taxi Driver) e Lily Gladstone (Certas Mulheres).

 

O diretor transforma esse longa em um relato histórico mais do que necessário para conscientizar, refletir e causar muita revolta ao espectador. O longa começa mostrando como os nativos de Osage se tornaram um dos povos mais ricos dos Estados Unidos após descobrirem petróleo em suas terras.

 

O Condado de Osage em Oklahoma, se torna povoado por nativos agora abastados, o que atrai o povo branco para trabalhar e tentar conseguir um pouco do chamado “ouro negro” para si. É dentro desse cenário que vemos a chegada de Ernest Burkhart, interpretado por um Leonardo DiCaprio (em mais uma atuação perfeita). Ele é sobrinho de Willian Hale (Robert De Niro), que demonstra ter um ótimo relacionamento com os Osage, inclusive falando a sua língua.

Há muitas faces nos personagens dirigidos por Scorsese, mas nenhum deles consegue superar o casal principal. Mollie, interpretada por Lily Gladstone, é uma fortaleza em forma de ser humano. Você passa o filme inteiro se solidarizando com ela e se questionando como é possível um ser humano sofrer de tal forma quanto ela e seguir firme. É um trauma atrás de outro, causando um verdadeiro sentimento de ódio pela situação. E do outro lado está o Ernest de Leonardo DiCaprio.

 

Sempre brilhante em cena, DiCaprio trabalha com o personagem mais complexo de sua carreira. Ele consegue ser vilão e vítima em simultâneo, causando sensações mistas por grande parte do tempo. A relação entre marido e mulher é o fio condutor desta trama de ganância e desumanidade. Acompanhar como eles se conhecem e como tudo se desenrola é de encher os olhos de lágrimas.

Além deles, o grande vilão da história é Bill Hale, vivido impecavelmente por Robert De Niro, naquele que provavelmente é o melhor trabalho de sua carreira. Ele é desprezível e inescrupuloso. Ele trabalha tão bem nessa proposta de ser intragável, que fica até difícil de separar a imagem dele do personagem, causando um certo desprezo só de olhar o rosto de De Niro.

 

Desde os primeiros momentos, o longa mostra flashes de nativos que foram assassinados no local, sempre sem nenhum tipo de investigação por parte da polícia. O filme deixa bem claro, logo de início, que por mais que os nativos tenham conseguido o direito de lucrar com o petróleo encontrado nas suas terras, o homem branco ainda tinha domínio sobre a lei, de um jeito ou de outro. Em dado momento, é comentado que um homem poderia mais facilmente ser preso por chutar um cachorro do que assassinar um indígena, o que mostra bem como era a realidade.

O filme funciona muito bem pelo trabalho de DiCaprio e De Niro e pela própria história, mas se torna realmente especial pela força da atuação de Gladstone como a nativa por quem Ernest se apaixona e que a família se torna alvo dos esquemas de Hale.

 

Conforme o filme avança, o bom relacionamento de William Hale e Ernest começa a mostrar como é de verdade, fazendo com que o filme realmente se torne uma história de violência e total desprezo pela vida humana. É impressionante como o cinema tende a sempre glorificar cenas de violência, criando uma certa fantasia como esses momentos realmente acontecem, mas Scorsese faz questão de mostrar como a violência é bruta, rápida e muitas vezes realizada com uma frieza sem igual.

 

Isso é outro grande trunfo de Assassinos da Lua das Flores. Em momento algum, fica alguma dúvida sobre quem está errado na história, mas em várias situações, é possível notar em alguns personagens que ainda existe um fio de humanidade dentro delas, ainda que não seja forte o suficiente para impedir suas ações.

 

Ao fim do filme, a longa duração, que provavelmente vai assustar alguns, justifica cada segundo de tela e deixa a sensação de que poderia ter tranquilamente uns 40 minutos a mais para desenvolver ainda melhor o desfecho, que, por opção do diretor, presta uma emocionante homenagem às radionovelas.

 

Fato é, que o filme é extremamente necessário, revoltante e fantástico. Scorsese atinge um nível raríssimo no meio do cinema ao criar mais uma inalcançável obra-prima. É um trabalho impecável que te causa sensações e mexe com sentimentos.

Vale lembrar que o longa é uma produção entre a parceria da Paramount e a Apple.

O filme estreia em 19 de outubro nos cinemas nacionais, recomendo a todos apreciar esta obra-prima nas telonas!

 

Crítica Rafa Gomes.

Cobertura do Porto Alegre 24 Horas

Quer ficar por dentro sobre as principais notícias do Brasil e do mundo? Siga o Porto Alegre 24 Horas nas redes sociais. Estamos no Twitter, no Facebook, no Instagram e no YouTube. Tem também o nosso grupão do Telegram e no Whatsapp.

Siga o Porto Alegre 24 Horas no GOOGLE News!