Crítica | Duna-Parte 2, por Rafa Gomes
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Crítica | Duna-Parte 2, por Rafa Gomes

“Nesta sequência, temos em fim um épico de ficção que faz jus aos contos literários”

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O Porto Alegre 24 Horas conferiu a segunda parte desta história que tem seu septo de fãs pelo mundo. Baseado na obra literaria de Philip K. Dick e Frank Herbert que lançavam uma das obras mais influentes da história da Cultura Pop: Duna. Com o passar dos anos, a trama política espacial serviu de inspiração para muitas franquias do gênero.

O livro assim como o longa gira ao redor da família Atreides e seu envolvimento com o planeta Arrakis. Paul Atreides, um jovem monarca cuja família foi destruída pelas guerras políticas, surge como a principal esperança para os Fremen se revoltarem. Com essa parceria, ele pretende vingar o assassinato do pai. Por anos, muitos não entenderam como a franquia não se popularizou na mesma intensidade que Star Wars e  O Senhor dos Anéis, por exemplo, mas a adaptação de Denis Villeneuve traz fortes indícios de que mudará isso nos próximos meses.

Em 2021, o primeiro capítulo da saga chegou aos cinemas e atraiu o público geral para apreciar a obra de ficção. Nos últimos anos, o gênero começou a se popularizar, mas chegou a um nível raro com Duna — Parte 1. O que as pessoas comumente chamam de ‘furar a bolha’. E agora, com Duna — Parte 2, Villeneuve parece que vai elevar o interesse do público geral pela ficção científica em níveis poucas vezes vistos.

Isso porque o filme é uma obra-prima. Quando o projeto foi anunciado como o primeiro de duas partes, Denis resolveu adotar uma estratégia narrativa ousada, mas eficaz. Ele trabalhou o ‘grosso’ da construção política desse universo no longa de 2021, abrindo espaço para uma expansão meticulosamente trabalhada dessa mitologia na parte 2, que é muito mais dinâmica e épica que sua primeira parte. Não que a política seja deixada de lado, ela está intrínseca à trama e a movimenta o tempo inteiro, mas aqui entra um fator fundamental do livro: a reflexão filosófica sobre o papel de Paul Atreides na sociedade Fremen e as escolhas do rapaz no futuro desse mundo.

Trabalhando aquele conceito de Paul ser ou não o escolhido, o filme ganha ares de épico bíblico. O menino quer ser uma liderança para vingar o pai, mas em momento algum se vê como um messias descrito nas lendas e crenças. Paralelamente a isso, a sociedade Fremen se divide entre aqueles que acreditam na mitologia e os céticos quanto a ter um estrangeiro liderando sua causa. Fato é que uma trama colossal como essa poderia dar muito errado, mas o preciosismo da direção é tão eficiente que fica impossível não embarcar nas contradições do protagonista e na crueldade da família Harkonnen. É um projeto feito com muito esmero, porque cada detalhe em cena importa para expandir esse universo tão fascinante.

Nesse segundo capítulo, é tudo trabalhado seguindo o manual do épico. Há maquinários impressionantes, paisagens de tirar o fôlego e um protagonista que precisa se provar para o povo e para si mesmo, enquanto reúne uma legião de apoiadores por onde passa. Em meio a uma abordagem praticamente religiosa, a grande novidade da vez é a ação. Enquanto aprende a se tornar um Fremen, Paul é exposto a diversas atividades dessa sociedade, como lutar, se adaptar ao deserto e a montar nos colossais vermes da areia. Villeneuve dedicou cerca de um ano de trabalho junto ao time de design para chegar ao visual perfeito dos vermes. Ele sabia que se essas criaturas não funcionassem em tela, muito provavelmente o filme em si não funcionaria. E toda essa dedicação deu certo, porque é impressionante ver esses monstros em ação.

Inclusive, há uma cena em especial que vai deixar o público de queixo caído, tamanha a grandiosidade do que é retratado em tela e como os vermes se encaixam nessa sociedade. Por sinal, grande mérito da direção do filme é o trabalho espetacular de escala. Não são todos os diretores que sabem brincar com as diferenças de tamanho de personagens e armamentos para impressionar. Um deles é Gareth Edwards (Godzilla e Rogue One), que é um mestre nessa arte. Neste filme, Villeneuve usa as escalas a seu favor para criar no público uma sensação de perigo. Todas as ações que Paul e os Fremen tomam diariamente são mortais. Por mais que eles tratem com uma naturalidade absurda, enfrentar o maquinário dos Harkonnen, montar os Vermes e viajar pelas intermináveis dunas de Arrakis representam chegar em casa vivo ou não. Essa sensação de perigo iminente permeia a totalidade da obra, muito pela forma como o diretor maneja as escalas.

Por falar em Harkonnen, a grande ameaça da vez é Feyd-Rautha Harkonnen, interpretado brilhantemente por Austin Butler. Ele é psicótico e por menos tempo de tela que tenha, rouba toda atenção para si quando aparece. Sua introdução beira o ridículo de tão ameaçadora que é. O rapaz é sobrinho do Barão Harkonnen e tem no tio uma promessa de assumir o império de Arrakis. Mais do que essa sede por poder, o trabalho de Butler exala carisma, quase como um viciado em assassinar os inimigos a sangue-frio. Sua caracterização e atuação são perfeitas para criar sensação de risco. Basta ele entrar em cena para que as atenções se voltem para o homicida careca que mata rindo. Faltam adjetivos para descrever o que Butler faz em tela. Fato é que ele vai deixar o público vidrado. O único problema, porém, é que ele tem realmente pouquíssimo tempo de tela. Diante de tudo que ele faz, ficou a vontade de vê-lo em mais cenas.

O filme emociona e encanta a cada frame, com uma qualidade técnica de arrepiar, recomendo a todos assistir em Imax por sua alta qualidade.

Crítica-Rafa Gomes.

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