Há músicas que chegam para entreter, e há músicas que chegam para romper o silêncio. No Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, 25 de novembro, a cantora e compositora Daii escolhe ocupar esse espaço com coragem. Seu novo single, “Espelho”, não é apenas mais um lançamento: é um manifesto em forma de canção.
A violência contra a mulher segue tentando calar vozes todos os dias. Algumas são abafadas pelo medo, outras pela culpa, muitas pela solidão. Daii, no entanto, devolve a essas vozes o que há de mais poderoso: a possibilidade de existir e ser ouvida. E faz isso com arte, uma ferramenta que sempre foi arma, abrigo e megafone.
“Espelho” nasce da dor, mas não se limita a ela. Produzida por Martin Mendonça – conhecido pelo trabalho no rock nacional ao lado de Pitty – a música abraça a estética pop com nuances de rock alternativo, equilibrando densidade e vulnerabilidade. É o tipo de composição que não tem pressa: respira fundo, encara, sangra, e só então floresce. A voz de Daii conduz esse percurso com firmeza, como quem guia alguém por um corredor estreito em direção a uma porta finalmente aberta.
A canção mergulha no ciclo de um relacionamento abusivo, mas também naquilo que existe depois dele. É sobre reaprender a se olhar no espelho, resgatar a autoestima e reencontrar a própria identidade, esse território íntimo que tantas mulheres perdem ao longo de uma relação que machuca.
O clipe, dirigido por Dhi Lourenci, amplia essa narrativa. Entre glitter, sombra borrada e a estética de uma ressaca emocional pós-carnaval, Daii aparece diante de um espelho que reflete mais do que uma imagem: reflete sobrevivência.
“Espelho” integra o EP “Do Outro Lado do Medo”, iniciado em 2024 e que já revelou os singles “Vem Cá” e “Não Vá Embora”, este último, inclusive, ultrapassando as 200 mil visualizações no YouTube e marcando presença em rádios e playlists pelo país. O novo trabalho confirma o que a carreira de Daii já vem anunciando: ela é uma das vozes mais interessantes da nova cena pop gaúcha, com algo genuíno a dizer e a capacidade de transformar vulnerabilidade em força criativa.
No fim, o que “Espelho” oferece vai além da música. É convite. É alerta. É abraço.
E, sobretudo, é um lembrete: ninguém deve se calar.



