Sob a direção de Ridley Scott, o filme avança com Lucius (Paul Mescal) e Acacius (Pedro Pascal) no centro da trama, dois novos protagonistas que assumem as facetas do falecido Maximus (interpretado por Russell Crowe no original), simbolizando a luta entre idealismo e pragmatismo diante de uma sociedade em decadência.
Ao invés de simplesmente reciclar a fórmula de seu antecessor, Scott opta por um caminho ousado, explorando os dilemas morais e as intrigas palacianas que dividem seus personagens. Lucius, marcado pela tirania do Império Romano, mantém um rancor profundo e se depara com questões filosóficas e emocionais ao lado de sua mãe, Lucilla (Connie Nielsen). Acácio, por outro lado, é um comandante experiente que representa o lado crítico de um império decadente, frustrado com uma sede desenfreada por conquistas e pela negligência do bem-estar de seus cidadãos. Ao criar esse contraste, Scott amplia o universo de “Gladiador”, apresentando conflitos que ressoam com as lutas de poder contemporâneas, além de revisitar temas que exploraram em trabalhos como “Casa Gucci” e “O Último Duelo”.
Um destaque curioso do filme é a forma como Scott representa a arena do Coliseu, mergulhando nas sequências de ação extravagante que envolve, além dos gladiadores tradicionais, combates com animais selvagens como rinocerontes e tubarões, em uma clara elevação do espetáculo visual. Essas cenas impressionaram por Tom Grandioso e um certo exagero artístico que se distancia do realismo histórico do primeiro filme, abraçando um estilo mais teatral e fantástico. O resultado é uma experiência visual vibrante e frenética que pode encantar ou alienar, dependendo da expectativa de cada espectador.
Denzel Washington se destaca como Macrinus, um personagem enigmático que domina as cenas com sua presença magnética, sendo quase uma personificação da corrupção e da politicagem que permeiam essa nova Roma. Sua atuação traz nuances de um vilão calculista, não muito distante dos personagens clínicos que Washington encarnou ao longo de sua carreira, como em “Dia de Treinamento”.
No entanto, “Gladiador 2” não é imune a críticas. A narrativa, em alguns momentos, parece se arrastar, e certos personagens, especialmente as figuras femininas ao redor de Lucius, sofrem com um desenvolvimento raso, que limita a profundidade emocional do enredo. Além disso, o peso do legado de Maximus se faz presente a todo momento, quase como uma sombra inescapável, e enquanto isso intensifica a conexão com o filme original, pode acabar sobrecarregando o novo enredo e impedindo que Lucius e Acacius conquistem plenamente o espaço como protagonistas independentes.
Em suma, “Gladiador 2” é uma continuação ousada que, mesmo sem alcançar a força épica de seu antecessor, oferece uma experiência visualmente rica e repleta de ação. É um espetáculo grandioso que revisita temas universais, embalado pela visão criativa de Ridley Scott, e embora nem sempre atinja a profundidade emocional e ansiosa, entrega um entretenimento visual que não decepciona os fãs do gênero épico.
Crítica:Leticia Raffaeli



