Jouhatsu: fenômeno de japoneses que optam por "desaparecer" e recomeçar suas vidas
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Foto: Reprodução/Internet

Jouhatsu: fenômeno de japoneses que optam por “desaparecer” e recomeçar suas vidas

Para atender à crescente demanda, surgiu no país a indústria Yonige-Ya, especializada em auxiliar as pessoas que desejam “evaporar”

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No Japão, milhares de pessoas tomam uma decisão radical a cada ano: desaparecer sem deixar rastros. Conhecidos como jouhatsu, termo que significa “evaporação”, esses indivíduos abandonam suas vidas, famílias e rotinas em busca de uma nova realidade. Embora a prática tenha ganhado maior atenção nas últimas décadas, ela acontece silenciosamente no país desde os anos 1960. O movimento reflete o desejo de escapar de pressões sociais, como desilusões amorosas, dificuldades financeiras ou expectativas familiares opressivas.

O sociólogo Hiroki Nakamori, que estuda o fenômeno há mais de uma década, explica que o desaparecimento voluntário é facilitado no Japão por uma cultura de privacidade rigorosa. “No Japão é mais fácil desaparecer do que em outros países”, afirma Nakamori. A polícia só intervém em casos onde há suspeita de crime ou acidente, deixando as famílias sem muitas opções além de contratar detetives particulares. Além disso, o sistema bancário e a restrição ao acesso de câmeras de segurança dificultam a localização dos desaparecidos.

Para atender à crescente demanda, surgiu no país a indústria Yonige-Ya, especializada em auxiliar as pessoas que desejam “evaporar”. Essas empresas organizam a logística completa do desaparecimento, incluindo transporte, hospedagem em locais distantes e até a eliminação de rastros, como telefones celulares. Apesar do nome Yonige-Ya significar “fugir à noite”, as operações podem ocorrer a qualquer momento do dia, dependendo da análise estratégica feita pela empresa.

A motivação dos jouhatsu geralmente está enraizada em experiências traumáticas ou insatisfação com a vida atual. Sugimoto, um dos entrevistados pela BBC, relatou que decidiu desaparecer para escapar da pressão de assumir o negócio de sua família. “Fiquei farto das relações humanas. Peguei uma mala e desapareci”, afirmou. Histórias como a de Sugimoto ilustram como a “evaporação” é vista como uma oportunidade de recomeço, mesmo que às custas de laços antigos.

Embora o fenômeno levante questões éticas e sociais, ele reflete aspectos profundos da cultura japonesa, incluindo a prioridade pela privacidade e o desejo de evitar confrontos diretos. Para os jouhatsu, o desaparecimento é uma forma de buscar liberdade em um contexto marcado por pressões intensas e expectativas elevadas. Enquanto isso, a indústria Yonige-Ya segue crescendo, oferecendo soluções para aqueles que decidem deixar tudo para trás.

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