A China vive uma situação incomum na gestão de resíduos: possui usinas de incineração em quantidade suficiente para processar 80% do lixo nacional, mas enfrenta escassez de matéria-prima para operar essas instalações. O desequilíbrio tem levado empresas a desenterrar resíduos de aterros sanitários antigos para abastecer as incineradoras.
A mudança representa uma inversão completa no panorama anterior. Até 2017, o país importava cerca de 70% dos resíduos plásticos globais, funcionando como principal destino do lixo mundial. Com a implementação do 12º Plano Quinquenal (2011-2015), que incentivou a incineração, a capacidade de processamento saltou de 20% para 35% do total de resíduos urbanos.
O setor expandiu rapidamente: o número de usinas de energia por incineração mais que dobrou entre 2019 e 2023, passando de 428 para 1.010 unidades. A meta governamental de capacidade diária de 800.000 toneladas foi superada em 2022, antes do prazo estabelecido para 2025.
Com a proibição das importações de lixo em 2017-2018 e o crescimento moderado na geração de resíduos domésticos (cerca de 10% nos últimos anos), as usinas começaram a operar com capacidade ociosa. Estima-se que aproximadamente 5% das instalações não conseguem funcionar por falta de material.
A competição por resíduos elevou o valor do lixo, tornando economicamente viável a escavação de aterros antigos. Especialistas alertam, porém, que resíduos desenterrados apresentam menor eficiência energética e precisam ser misturados com lixo fresco para queimar adequadamente.
O modelo atual, embora lucrativo para as usinas – com rentabilidade média anual de US$ 14 milhões nas áreas rurais -, é considerado temporário. Analistas apontam que a continuidade do crescimento moderado na geração de resíduos pode levar todo o sistema de incineração a uma crise de sustentabilidade.



