No arroio Dilúvio há de tudo, boiando ou afundado. Se em um dia de sol e calor em Porto Alegre alguém encontrasse uma espreguiçadeira e um guarda-sol abandonados ali dentro, poderia montá-los sobre alguma das “praias” que se formaram nos últimos meses no curso d’água. Ficaria uma cena típica de orla. Já em dias de chuva, os detritos ficam submersos.
O assoreamento do arroio chegou a esse ponto de uma espécie de Lençóis Diluvienses, mas nada bonitos. Nem cheirosos. Bastam alguns dias de estiagem para a água minguar ainda mais e o Dilúvio se tornar um mero córrego no meio do lixo e da areia. O cenário é comum nas curvas do arroio, especialmente na altura da rua Ramiro Barcelos e do Zaffari da Ipiranga.
Moradora do entorno do supermercado, a médica veterinária Graciela Giurni, 43 anos, costuma passar pelo arroio quase diariamente. Mesmo assim, ainda se surpreende com o que vê. “O que mais tem no Dilúvio é capacete de motoqueiro. Mas já vi até sofá”, afirmou.
Graciela reparou que há tempo não é feita uma dragagem no arroio, atividade que se tornou típica na cidade nos últimos anos, quando era comum ver máquinas sendo operadas nos taludes para retirar o excesso de areia e entulho. “Acho que a última foi no verão. Mas logo tem que dragar de novo. Aqui, por exemplo, sempre tem ‘prainhas’”, comentou.
O secretário municipal de Serviços Urbanos, Ramiro Rosário, confirmou que o serviço não está sendo realizado. O motivo é um aparente descontentamento com o trabalho que estava sendo feito. “A falta de dragagem e o consequente assoreamento do arroio, com certeza, trazem prejuízos ao escoamento pluvial no arroio Dilúvio. Por isso, modificamos o projeto básico de dragagens, estabelecendo mais rigor aos serviços prestados e aumentando, por exemplo, a exigência na fiscalização. A previsão é de que um novo edital de licitação seja publicado ainda neste mês”, disse o secretário.
Muito lixo
Não bastasse a ausência de dragagem, o arroio sofre com o acúmulo de lixo nos taludes e na Ipiranga. Segundo Graciela, o vento derruba plásticos e papéis para a água. Ela também reclama de moradores, carroceiros e empresas que têm largado sacos de lixo nas laterais do Dilúvio.