Em meio a um forte temporal de ventos e granizo, o policial militar, soldado Cruz, juntamente ao bombeiro militar, soldado Santos, efetuaram uma Operação de resgate na praia do Laranjal, em Pelotas. A embarcação se afastou cerca de três quilômetros da costa, onde foi alcançada por os soldados, em seus caiaques desprovidos de motores.
Segundo o Sd Cruz, o retorno com a embarcação a reboque durou cerca de uma hora e meia de remo, passando por temporal de fortes ventos, muitos raios, trovoadas e granizos. Conta ainda, que por diversas vezes o temporal fez com que seus caiaques virassem em meio a forte tempestade, dificultando ainda mais o salvamento. Remando, até quase exaustão, quando próximo a praia, foram auxiliados por uma embarcação com motor do grupamento dos Bombeiros.
Em carta escrita pelo professor da Universidade Federal de Pelotas, Fábio Amaro da Silva Durval, seu barco teve o convés quebrado, ocasionando a queda do mastro, impossibilitando o retorno para a costa. Ele estava à deriva em seu veleiro com mais um tripulante. Ao chegar na costa, pai de Fábio o aguardava ansioso, agradecendo os soldados.
Confira a carta aberta que o professor fez em sua rede social endereçada ao Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul:
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“venho perante Vossa Excelência relatar sobre o trabalho exemplar prestado pelo Soldado Cruz e pelo Soldado Santos em uma arriscada operação de resgate dentro da Lagoa dos Patos, no Saco do Laranjal, próximo à Barra do Canal São Gonçalo, na tarde do dia onze de fevereiro do corrente ano.
Eu, Fábio Amaro da Silveira Duval, e Rodrigo Duque Estrada Campos velejávamos a uns 500 metros do Trapiche do Valverde, sob vento NE da ordem de cerca de 10-15 nós, em um veleiro da classe Laser, quando inesperadamente o convés do barco se quebrou na altura da enora ocasionando a brusca queda do mastro, o que deixou-nos à deriva, sem possiblidade de retornar à costa. Nesse momento, no qual ainda portava um telefone celular, comuniquei minha família sobre o incidente e pedi que entrassem em contato com o Corpo de Bombeiros para que fosse efetuado o resgate.
Cerca de trinta minutos depois de feita a comunicação, o vento virou para S e foi bruscamente aumentando de intensidade para uma velocidade certamente superior aos 40 nós. Junto com o vento, assolavam o céu raios com curto espaçamento de tempo em relação aos trovões, indicando que as correntes eletromagnéticas estavam próximas, e uma chuva torrencial que logo transformou-se em chuva de granizo. Nossa visibilidade reduziu-se a um raio de 20 metros, e as vagas, do tamanho de cerca de um metro e picadas, ameaçavam naufragar o barco pelo rombo que se havia formado no convés. Esta situação durou entre de 50 minutos e uma hora, e nisso já estávamos muito mais distantes da praia.
Quando a chuva e o vento amainaram e a visibilidade aumentou, pudemos ver, a cerca de cem metros de nós, dois caiaques. Eram o Soldado Santos e o Soldado Cruz. Haviam remado em meio àquele temporal, enfrentando raios, e vento, e vagas para nos resgatar em dois míseros caiaques, denotando a valentia descomunal destes dois bombeiros que, àquela altura, já estavam arriscando em muito suas próprias vidas para nos resgatar.
Encontramo-nos a cerca de três quilômetros da costa, um barco com um buraco no convés e os dois caiaques, com quatro vidas a eles agarradas. Enquanto amarrávamos as embarcações para proceder ao reboque do Laser pelos dois caiaques, desguarnecidos de motor e dependentes apenas dos remos do Soldado Santos e do Soldado Cruz, o vento voltou a soprar em velocidades crescentes, as quais atingiriam mais de 40 nós novamente. Os raios voltaram a assolar nosso céu e as vagas violentas, que punham água para dentro do casco, eram o presságio de que, em pouco tempo, poderíamos afundar.
Sob o comando do Soldado Cruz, amarramos as embarcações em fila indiana e os dois começaram a remar corajosamente contra o furor das forças da Natureza. Tivéssemos ficado parados, aguardando resgate a motor, certamente as mãos que redigem esta missiva estariam no fundo da Lagoa.
Durante mais de uma hora a proa do Soldado Cruz, seguido do valente caiaque do Soldado Santos, singraram as águas rebocando-nos e atravessando o temporal que castigava. Novamente granizos e vagas e raios e a coragem destes dois soldados em meio a uma tormenta na qual haviam entrado para cumprir sua nobilíssima vocação de salvar vidas.
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Depois de muita luta, o temporal começou a se dissipar e nós pudemos ver a costa. Estávamos a cerca de dois mil metros do Trapiche do Valverde e os Soldado Cruz e o Soldado Santos continuavam remando, como haviam feito durante todo o temporal. Exaustos, pudemos ver ao longe uma embarcação motorizada se aproximando. Era o bote do Corpo de Bombeiros que chegava para ajudar esses bravos homens a completar com sucesso a sua missão.
Na chegada à praia, onde meus familiares nos esperavam, meu pai, em extremo agradecimento, ofereceu uma recompensa aos dois soldados. Foi quando, com a postura dos verdadeiros heróis, do tipo daqueles que salvam vidas mesmo que às custas das próprias, o Soldado Cruz e o Soldado Santos disseram: “Nossa recompensa é apertar a mão de quem, em segurança, acabamos de salvar…”.
Diante da narrativa, venho perante Vossa Excelência e perante toda comunidade gaúcha atendida pelo Corpo de Bombeiros Militar, notadamente àqueles lotados nas águas internas, reverenciar o trabalho do Soldado Cruz e do Soldado Santos e recomendar-lhes as mais altas honrarias que esta corporação possa-lhes conceder.



