Nessa quarta-feira de muito calor, enquanto o governador gaúcho Eduardo Leite participava de reunião-almoço na Federasul (Federação de Entidades Empresariais do Rio do Sul), um grupo de professores em greve protestou em frente à sede da entidade, no Centro Histórico de Porto Alegre. O ato teve como foco o pacote de reformas das carreiras e da previdência do funcionalismo.
O governador, aliás, estava ali para mais uma edição do tradicional evento “Tá na Mesa”, justamente para defender o conjunto de medidas, que deve ser votado até 20 de dezembro no Parlamento. Do lado de fora, educadores gritavam palavras-de-ordem e ostentavam cartazes e faixas contra o programa “ReformaRS”, recentemente protocolado pelo Palácio Piratini na Assembleia Legislativa.
Em uma espécie de “trocadilho” com o sobrenome do governador, uma representante do Cpers-Sindicato despejou o conteúdo de uma caixa de leite longa-vida sobre o chão do acesso ao prédio, localizado no largo Visconte de Cairu, próximo ao Mercado Público. Outros manifestantes também mencionavam a sonegação de impostos como uma das causas para a crise financeira do Estado, contrapondo o argumento oficial de que o grande problema é o custo elevado da folha de pagamento dos servidores.
Situação do movimento
Conforme os 42 núcleos regionais do Cpers, até as 16h30min dessa quarta-feira pelo menos 1.428 instituições de ensino haviam abraçado a iniciativa do magistério em todo o Estado, 95 delas em Porto Alegre. “São 727 escolas totalmente paralisadas e 701 com adesão parcial [ao movimento], algumas operando com apenas 5% de seus quadros”, contabilizou a entidade, apresentando dados que divergem dos apresentados pela Seduc (Secretaria da Educação), que sugerem um volume bem menor.
Ao longo da semana, muitos estabelecimentos da rede estadual ainda discutem a sua posição sobre a greve. “A expectativa é de que o número cresça substancialmente até sexta-feira”, diz o comando da entidade, que também fala em apoio por parte das comunidades: “Indignação é a palavra de ordem”.
O site oficial do Cpers reproduziu alguns depoimentos de pais de alunos, a exemplo do presidente do conselho da Escola Estadual de Ensino Médio José do Patrocínio, no bairro Restinga (Zona Sul da capital gaúcha). “Todo mundo tem que procurar seus direitos”, declarou José Carlos de Souza, com três filhas matriculadas na instituição. “Os professores são fundamentais para qualquer profissão. A greve causa incômodo mas é bem-vinda. Para mim não tem lógica o que está sendo imposto aos educadores”.
A ideia foi reforçada pelo depoimento de Geferson Moraes, pai de quatro alunos da rede municipal: “A paralisação prejudica bastante a gente, que tem filho, mas a culpa é do governo, que está fazendo esse horror com os professores. É uma vergonha pagar tantos impostos e trabalhar cada vez mais, para receber cada vez menos e não ter opções de saúde e educação para os filhos”.
Próximos passos
Na próxima segunda-feira, o comando de greve do sindicato voltará a se reunir para fazer um balanço da primeira semana de mobilização e discutir as ações. A pauta inclui a nova assembleia-geral dos professores, agendada para o dia seguinte, às 13h30min, na Praça da Matriz, palco costumeiro de manifestações dos profissionais de educação da rede estadual.
O local, aliás, abriga desde a semana passada o “Acampamento da Resistência”, com um fluxo constante de profissionais do setor e apoiadores. (Marcello Campos | O Sul)



