A rotina tranquila de uma cidade do interior interrompida por um crime bárbaro e ainda sem solução conclusiva – esse é o roteiro de filme de terror que os moradores de Pindamonhangaba, município de 170 mil habitantes a 150 km de São Paulo, estão vivendo desde o início desta semana, quando um caso de sequestro de um bebê mobilizou a comunidade e acabou em tragédia.
O padrasto da pequena Maria Clara, de 1 ano e 3 meses, acabou confessando que matou e decapitou a criança com uma faca em uma área rural na última terça-feira (14/10), porém mentiu que ela havia sido sequestrada. Diogo da Silva Leite está preso, mas a polícia – e a cidade – tentam entender por que e como ele cometeu o crime, e se fez tudo sozinho. Uma das dúvidas é se ele violentou sexualmente a vítima, algo que apenas os laudos periciais, com prazos de 30 e 60 dias para ficarem prontos, poderão confirmar.
“A criminalidade por aqui não é alta. Sequestros mesmo não acontecem há mais de 10 anos, então causou pânico a notícia, as pessoas ficaram alarmadas”, relata ao Metrópoles a delegada responsável pelo caso, Renata Costilhas.
E foi esse pânico da comunidade que ajudou a achar rapidamente o autor do crime. Na noite do dia em que a menina foi morta em uma trilha entre Pindamonhangaba e Taubaté, seu padrasto foi a delegacia e registrou o sumiço da enteada.
Disse que havia ido com ela até o centro da cidade, numa praça que já foi estação ferroviária e hoje serve como espécie de terminal urbano de ônibus. Lá, teria pedido a um desconhecido para olhar a menina enquanto ia ao banheiro, momento em que ela teria sido sequestrada.
A notícia se espalhou naquela mesma noite pela cidade via mensagens de WhatsApp com fotos da criança, pedindo informações, ajuda. “Então pessoas que o viram levando a menina de bicicleta na estrada velha para Taubaté nos procuraram”, conta a delegada.
“Diante dessa contradição e do fato de as câmeras da região central não terem registrado a presença dos dois, ele acabou confessando. Mas não disse o motivo, só disse que sentiu uma raiva da menina na hora”, completa a doutora Renata, que segue ouvindo testemunhas e investigando mais pessoas, mas pede para não dar detalhes que possam atrapalhar o inquérito.
Fogo na casa
Diogo foi preso na tarde seguinte à morte da enteada. A informação revoltou a comunidade onde ele vivia há pouco mais de um ano com a mãe da criança e três filhos de outro relacionamento dela.
O bairro de Araritama fica afastado da região central de “Pinda”, que é como os locais apelidam a cidade que foi cenário de vários filmes do cineasta Amácio Mazzaropi, representado em uma estátua no local.
É uma vizinhança humilde e a família vivia em uma casa construída em um projeto habitacional da prefeitura. A notícia da prisão chocou a vizinhança e a reação de alguns vizinhos ao crime foi depredar e incendiar a casa da família no início da tarde de quarta (15/10).
Na sexta (16/10), quando a reportagem esteve no local, o cheiro de queimado ainda estava presente no pequeno imóvel em ruínas. Algumas cenas mostram como o fogo interrompeu uma rotina doméstica: o varal caído ainda com roupas da família, restos de macarrão pronto entre os escombros da sala, brinquedos, roupas e calçados de crianças espalhados, chamuscados.
“Incêndio é um barulho enorme, a gente não imagina. Quando vi, eram aqueles estalos, o calor, a fumaça. Eu achei que ia queimar a quadra toda, gosto nem de pensar no desespero, ainda bem que os bombeiros chegaram logo”, contou ao Metrópoles uma vizinha que mora a duas casas do local, na mesma rua.
“Aqui não tem outro assunto mais. É só disso que a gente fala. Todo mundo assustado, sem entender”, completou ela, que pediu para não ser identificada. (Metrópoles)



