Ex-fiscal diz à polícia que uso de violência era permitido no Carrefour
Foto: Diego Vara/Reuters

Ex-fiscal diz à polícia que uso de violência era permitido no Carrefour

Uma sala sem câmeras servia para que os seguranças levassem os clientes sem que nada fosse percebido.

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Hygino Vasconcellos

Um ex-fiscal afirmou à polícia que a gerência da unidade do Carrefour na zona norte de Porto Alegre autorizava o “emprego de violência” em clientes que “estavam causando problemas”. Foi lá que o homem negro João Alberto Silveira Freitas, 40, morreu após ser espancado por dois seguranças do estabelecimento — Magno Braz Borges e o policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva — na última quinta-feira (19). Os dois homens estão presos.

O uso da violência, segundo relatou à polícia o homem de 34 anos, ocorria também para que suspeitos confessassem “furto ou confusão ocorrida no interior do estabelecimento”.

Segundo o ex-fiscal, nesta unidade do Carrefour há uma sala sem câmeras de segurança próxima de onde Beto, como era conhecida a vítima, foi agredido. Ele disse que é “usual a prática dos seguranças do local de imobilizar suspeitos e levar até a referida sala para que nada fosse gravado pelo sistema de segurança”.

O ex-fiscal trabalhou na unidade por dois meses, no final do ano passado. O homem afirmou que “era comum, ao desconfiarem de algum furto de bens, serem tomadas providências sob a orientação da gerência da segurança e da líder da loja que na época que o declarante trabalhava era a sra Adriana”, segundo trecho de depoimento à polícia.

Segundo o ex-funcionário, as providências consistiam em “constrangimento dos clientes suspeitos através de acompanhamento dentro da loja por fiscais e mensagens de rádio em volume alto para que todos que estivessem próximos ouvissem e a pessoa se sentisse desconfortável a ponto de devolver eventual mercadoria furtada”.

Em nota enviada ao UOL, “o Carrefour informa que todos os seus funcionários e prestadores de serviços de empresas de segurança passam por um rigoroso treinamento para que atuem com total respeito e cordialidade com os nossos clientes”.

A rede de supermercados afirma que “atua apenas com empresas homologadas pela Polícia Federal e exige de todos os seus fornecedores o cumprimento de seu Código de Conduta, que norteia quanto aos protocolos exigidos pela empresa”.

“O Carrefour ressalta ainda que realiza periódicas auditorias junto às empresas terceiras, treinamentos com todos os profissionais que atuam na área, abrangendo a valorização da diversidade. A empresa reitera que qualquer atuação em desacordo com os padrões estabelecidos é rigorosamente investigados e punidos, de acordo com o caso”, finaliza a nota oficial da rede de supermercados.

O caso

João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, foi morto na noite de quinta-feira (19) por seguranças do supermercado. Segundo a Polícia Civil, após um desentendimento com uma funcionária no caixa do estabelecimento, o homem, que é negro, foi levado para o estacionamento, onde ocorreram as agressões.

A funcionária é fiscal de caixa. Ela alegou que o cliente, que fazia compras com a sua mulher, teria gesticulado e falado algo que a fez sentir ameaçada, e os seguranças foram acionados. Nas imagens das câmeras de vigilância, é possível ver o homem sendo imobilizado e levando vários socos de dois seguranças. Os agressores foram presos. Um deles é policial militar temporário.

Os supermercado ficou fechado na sexta e também no final de semana, após as manifestações da sexta. A segurança foi reforçada no local. “O Carrefour informa que adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos neste ato criminoso. Também romperá o contrato com a empresa que responde pelos seguranças que cometeram a agressão”, afirmou a rede em nota. (UOL e O Sul)

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