Rigor técnico para proteção dos policiais marca investimento em viaturas semiblindadas
Foto: Carlos Ismael Moreira

Rigor técnico para proteção dos policiais marca investimento em viaturas semiblindadas

Comitiva de avaliadores das polícias Civil e Militar aprovou protótipo e fez testes balísticos em São Paulo no final de setembro

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“Atenção, tiro!”

Dado o alerta pelo operador do laboratório, o projetil de calibre 9 mm corta o ar a partir do provete de disparo a uma velocidade de 415 km/h. Percorre cinco metros em 0,04 segundos até se chocar contra um para-brisa de veículo sem que nenhum fragmento da munição consiga transfixar o vidro. A tecnologia, que mantém intacta uma folha de alumínio atrás do alvo, é o mais novo – e inédito – item de proteção à vida dos policiais gaúchos.

A cena foi repetida mais de 20 vezes durante os testes realizados em Itaquaquecetuba, na região metropolitana de São Paulo, acompanhados por representantes das forças de segurança do Rio Grande do Sul no final de setembro. Passados quatro meses, o governo do Estado entrega nesta terça-feira (5/1) 41 viaturas zero-quilômetro e semiblindadas para a Polícia Civil – outras quatro estão em produção e chegam nos próximos meses. É a primeira vez na história do Estado que efetivos das forças de Segurança Pública recebem viaturas, adquiridas pelo Estado, com padrão de semiblindagem para uso na rotina de policiamento e operações.

Os ensaios balísticos e a aprovação de protótipo, realizados entre 24 e 26 de setembro do ano passado, compõem as etapas finais da licitação para veículos nesse novo padrão, que será adotado em todas as compras futuras. Em fevereiro de 2020, foi aberto pregão eletrônico para quatro lotes no total de 750 veículos, no sistema de registro de preços, que permite ao Estado fazer aquisições pelo menor valor ofertado no prazo de um ano, conforme a necessidade e a disponibilidade de recursos.

Laboratório do teste balístico7   ao fundo parabrisa como alvo
No teste balístico, o projetil de calibre 9 mm corta o ar a uma velocidade de 415 km/h – Foto: Carlos Ismael Moreira/Ascom SSP

O investimento total para essas 45 viaturas da Polícia Civil foi de R$ 6.190.614,45, sendo o valor unitário de R$ R$ 137.569,21. Os recursos têm origem em emenda da bancada federal gaúcha, com contrapartida do Estado. É o marco inaugural de uma mudança de paradigma no suporte de defesa dos policiais militares e civis para qualificar o trabalho de enfrentamento à criminalidade. A Secretaria da Segurança Pública (SSP) planeja entregar nos próximos meses outras 176 viaturas semiblindadas, elevando o investimento total para mais de R$ 35,2 milhões.

“Essas viaturas simbolizam um marco da premissa de investimento qualificado que, com a inteligência e a integração, norteia o Programa RS Seguro. É a valorização e o aprimoramento na proteção daquilo que temos de mais valioso na Segurança Pública, que é a vida dos nossos profissionais. A partir dessa aquisição, entramos em uma nova era em termos de aparelhamento das forças policiais no Rio Grande do Sul”, afirmou o vice-governador e titular da SSP, Ranolfo Vieira Júnior.

À Brigada Militar, serão entregues 103 Dusters, também com recursos de emenda da bancada federal, no total de R$ 14.172.966,55 (sendo R$ 12.741.290,55 do repasse da União e R$ 1.431.676 de contrapartida financeira do Estado).

A corporação ainda deve receber 53 pick-ups Hilux, no valor de R$ 10.838.500, com recursos de transferência do Fundo Nacional de Segurança Pública para o Fundo Especial da Segurança Pública (Fesp) do Rio Grande do Sul. A partir da mesma origem, outros R$ 4.090.000 vão custear 20 pick-ups Hilux para a Polícia Civil.

Qualidade atestada

Em Itaquaquecetuba, na sede da Protecta, fornecedora das mantas de aramida da blindagem, foram realizados os testes de resistência balística em peças de ambos os modelos em um laboratório especificamente preparado para atender aos critérios estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

Em um estande com isolamento acústico, as peças são posicionadas em uma estrutura metálica que fica a exatos cinco metros do cano do sistema de disparo, o provete. Atrás do alvo, é posicionada uma lâmina de alumínio, chamada de folha testemunha, que fica marcada ao menor vestígio de contato com resquícios de pólvora ou fragmentos de munição.

Para medir a velocidade dos disparos, um cronógrafo eletrônico registra o tempo da passagem do projetil entre dois quadros vazados, com distância de um metro um do outro, posicionados na linha de trajetória do tiro. Pelas normas da ABNT, cada corpo de prova deve resistir a cinco disparos, marcados por uma mira laser, em velocidade mínima de 411 km/h.

A munição também é preparada no momento do teste. A quantidade exata de pólvora é dispensada por um polvorímetro sobre uma balança eletrônica, e um sistema mecânico realiza o disparo. Tudo para assegurar o rigor técnico nos testes e a qualidade da blindagem a ser instalada nas viaturas, que, além de ampliar a capacidade de enfrentamento à criminalidade, poderá fazer a diferença na preservação da vida dos policiais.

A comitiva gaúcha também visitou a planta da REV Brazil, onde são realizadas as adaptações nos carros entregues pelas montadoras para transformá-los em viaturas. A empresa norte-americana, líder global em veículos especiais, prepara automóveis para Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e forças de segurança de diversos Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Na fábrica, os representantes da Brigada Miliar (BM) e da Polícia Civil (PC) do Rio Grande do Sul realizaram vistorias em unidades já caracterizadas com a identidade das duas corporações. Além da customização visual, são avaliadas todas as adaptações realizadas, como posicionamento, instalação e funcionamento dos sistemas de giroflex e radiocomunicação, circuito elétrico, lanternas e engates de reboque, além da aplicação da blindagem.

“Esse trabalho certifica que estão sendo cumpridos todos os itens exigidos nos termos de referência para cada modelo, tanto SUVs quanto pick-ups e camionetes, previstos no edital do pregão”, explica o major Moacir Brum, do Centro de Motomecanização (CMM) da Brigada Militar, líder da comitiva que contou ainda com representantes técnicos do Centro de Manutenção Tecnológica (CMTec) da BM e das divisões de Transportes e Manutenção (DTM) e de Telefonia e Radiocomunicação (DTR) da PC.

Os policiais gaúchos acompanharam todo o processo de instalação das placas de aramida e peças de aço, que demandam a desmontagem completa das partes do veículo que recebem a blindagem. Após a colocação do material, os carros ainda passam por teste de estanqueidade para assegurar que, mesmo depois do processo de adaptação para blindagem, seguem com vedação hermética contra a entrada de água.

A viatura passa por uma estação, semelhante a uma cabine de lava-jato, com biqueiras que permitem simular uma chuva vinda de todas as direções. A estação dispersa 1,8 mil litros de água por minuto, num total que equivale a um temporal de mais de 150 milímetros, parâmetro calculado pela multiplicação de três vezes o nível de uma precipitação considerada violenta (acima de 50 milímetros).

Tecnologia de resistência

Na capital paulista, a comitiva gaúcha visitou a fábrica da Hi-Tech Blindagens, empresa responsável pelo projeto e instalação da proteção balística, onde foi detalhado o processo de desenvolvimento, certificação e registro. Para cada uma das unidades adaptadas, a Hi-Tech emite um certificado de blindagem junto ao Exército, vinculado ao chassi do carro, garantindo a rastreabilidade do material de uso restrito. A empresa tem selo de sistema de gestão de qualidade ISO 9001 e homologações da Associação Brasileira de Blindagem (Abrablin) e de cinco montadoras, entre as quais a Renault e a Toyota, fornecedoras da licitação gaúcha.

A tecnologia de blindagem da empresa utiliza na carroceria mantas com nove camadas do tecido de fibra de aramida, mais leve que o aço e com capacidade de resistência quatro vezes maior. A proteção instalada será do nível III-A, que suporta disparos de todos os tipos de arma de mão, como pistola .40 e 9 mm.

O sistema de aplicação utiliza somente peças inteiras de manta, moldadas exatamente de acordo com a área a ser coberta. O mesmo é feito nas partes que recebem reforço em aço, com peças estampadas no formato idêntico ao do desenho de projeto das montadoras, o que facilita a instalação e qualifica o nível de proteção ao eliminar a necessidade de emendas.

Nos vidros, fabricados pela Fanavid, a blindagem é composta pela sobreposição de materiais para assegurar a resistência balística padrão: três camadas de vidro, intercaladas com uma de aço, duas de película plástica PVB (polivinil butiral), além de selante de poliuretano (PU) e uma última de plástico policarbonato. (RS.Gov)

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