Do Sul21
Em meio à pandemia de coronavírus, que concentra atenções da população, o Rio Grande do Sul enfrenta outra preocupação na área de saúde pública. Só até a metade do mês de maio, o Estado já registou 5.790 casos confirmados da doença, sendo 5.625 autóctones, ou seja, contraídos no RS. Embora ainda estejamos em maio, já é o maior número da série histórica, iniciada em 2010. Também já foram registradas seis mortes por dengue em 2021 no Estado, segundo o mais recente Informe Epidemiológico da Secretaria de Saúde (SES).
Dos casos autóctones, 83,2% concentram-se em quatro municípios: Aratiba e Erechim (11ª CRS), Santa Cruz do Sul (13ª CRS) e Bom Retiro do Sul (16ª CRS). A 11ª e a 13ª regiões, com 3.402 e 1.223 casos, respectivamente, encontram-se em situações bastante delicadas. Em todo o ano passado, a região de Erechim não teve nenhum caso registrado e a de Santa Cruz apenas 166.

Já na região de Porto Alegre, foram 83 confirmações neste ano. O dado mais preocupante da Capital é a velocidade com que os casos autóctones vêm crescendo. Na semana epidemiológica 15, com dados cumulativos até 17 de abril, eram apenas quatro casos. Duas semanas depois, saltaram para 25 e na última atualização, em 15 de maio, chegaram a 46.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, os bairros mais afetados até agora são Santo Antônio, com 20 casos, Humaitá, com 16, e Lomba do Pinheiro, com 7 casos. A Prefeitura divulga o índice médio de infestação de fêmeas adultas do Aedes aegypti (IMFA) para avaliar a possibilidade da endemia se alastrar. Segundo o IMFA, na SE 19, entre os dias 9/5 e 15/5, o IMFA ficou em 0,36, sendo considerado condição de alerta. Esse índice já havia ficado em 1,69, na SE 15, que foi o maior registro de 2021.
Segundo Fernanda Fernandes, Diretora Adjunta da Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde, já estão sendo instituídas ações para interromper o ciclo de transmissão para o próximo ano. “Temos um comitê instituído para tratar de ações para eliminar criadouros com o DMLU e Secretaria do Meio Ambiente para ajudar nessas áreas onde identificamos os pontos de transmissão no município, então vamos providenciar a limpeza dessas áreas e a orientação dos moradores”, afirma.
Vistoria no Parque da Redenção na última terça-feira, por exemplo, identificou criadouros do mosquito no Espelho D’Água. O Aedes aegypti se reproduz em ambiente de água parada, limpa ou suja, onde os ovos são depositados. Para evitar a contaminação, é essencial tampar objetos como caixas d’água, calhas, potes, tonéis, pneus, vasos, ralos, entre outros.
Faltam profissionais para combater a dengue
O Sindisaúde-RS tem recebido denúncias de que Agentes de Combate a Endemias (ACE) estão em desvio de função, o que tem resultado em redução no número de trabalhadores que atuam diretamente no combate às endemias.
Segundo Rosângela Souza, Diretora do sindicato, os agentes estão exercendo funções administrativas nas unidades de saúde, recepção, telefonia e avisos de consultas e exames. “Os ACEs, na grande maioria, não estão fazendo o trabalho externo, ficando dentro das unidades, fazendo trabalho administrativo, que qualquer trabalhador pode fazer”, afirma.
Rosângela diz que o desmonte na saúde municipal, iniciado na gestão anterior e continuado nesta, teria desconfigurado o trabalho dos agentes de combate às endemias. “Sem o trabalho externo, que são as visitas domiciliares para orientação da população dos cuidados e monitoramento dos possíveis depósitos e a coleta de larvas do vetor, fica difícil a prevenção de novos casos”, diz.
Outra diretora do Sindsaúde, que prefere não se identificar, conta que desde a gestão anterior Agentes de Combate a Endemias estão vinculados à Atenção Básica e que dependem da liberação das coordenações das unidades para poder realizar serviço nas ruas. “O que é contraditório, pois o trabalho dos Agentes de Endemias é trabalho que deveria ser coordenado pelos Biólogos e Veterinários que entendem da complexidade do trabalho. Muitas vezes, os ACEs realizam o trabalho dos Agentes Comunitário de Saúde, pois alguns estão em unidades que não têm ACS”, diz. “Nós temos um aumento de casos, pois sem a orientação à população e sem a eliminação mecânica dos criadouros, o descuido do usuário aumenta, assim como a proliferação dos mosquitos”, completa.
Segundo a assessoria da Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS), com o fim do Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família de Porto Alegre (Imesf), novos Agentes de Combate a Endemias precisam ser contratados pela Prefeitura e o processo seletivo está em andamento.



