Referência em Canoas e integrante do Programa Nacional de Controle da Tuberculose, o Laboratório do Hospital Universitário de Canoas apresenta relatório quantitativo de testes realizados nos últimos dois anos. Neste 24 de março, Dia Mundial de Combate à Tuberculose, a biomédica Joana Morez Silvestri, que atua há cinco anos no HU, alerta que apesar de ser considerada uma doença do passado, a tuberculose continua presente na população e, de acordo com o relatório da Organização Mundial da Saúde de 2021, durante a pandemia da Covid-19 as mortes pela doença aumentaram.
Responsável por detectar casos novos, monitorar a evolução do tratamento, realizar a vigilância da tuberculose sensível ou resistente aos fármacos e documentar a cura, no fim do tratamento, o Laboratório de Análises Clínicas do HU atende 14 Unidades de Saúde de Canoas juntamente com o Serviço de Tisiologia, além do Complexo Penitenciário de Canoas, o Hospital de Pronto Socorro de Canoas (HPSC) e do próprio Hospital Universitário de Canoas. A expectativa é expandir o serviço ao longo de 2023.
Conforme relatório dos dados coletados, em 2021, foi processado o total de 998 amostras, destas, 292 positivaram para tuberculose (representando 29,25% das amostras). Em 2022, foi realizado o total de 1.236 testes, destes, 260 positivaram para tuberculose (representando 21,0% das amostras processadas).
Segundo a biomédica, a principal forma de prevenção da tuberculose é a vacina BCG, oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O imunizante deve ser aplicado nas crianças logo ao nascer ou, no máximo, antes dos 5 anos de idade. Além disso, para prevenir a doença é importante evitar ambientes lotados, fechados e com pouca ventilação como também o contato prolongado com pacientes diagnosticados com tuberculose.
O coordenador do Laboratório de Análises Clínicas do HU, Cláudio Saucedo, frisa que o serviço laboratorial opera com certificado de Excelência, emitido anualmente com selo do PNCQ. Além disso, destaca que o hospital conta com ótimo suporte tecnológico que permite mais rapidez e precisão nos processos.
Confira abaixo a entrevista completa com as respostas da biomédica Joana Morez Silvestri
1- Como funciona hoje o fluxo das análises para diagnóstico da Tuberculose no Laboratório do HU?
Joana – As amostras com suspeita de TB são encaminhadas para o diagnóstico laboratorial e seguem um fluxo estabelecido pelo Ministério da Saúde. O diagnóstico inicial deve ser realizado preferencialmente por meio do Teste Rápido Molecular para TB (TRM-TB), que detecta o material genético do Complexo Mycobacterium tuberculosis. As amostras com resultado positivo deverão seguir para a cultura que segue sendo o padrão-ouro para o diagnóstico e, caso a cultura seja positiva, segue para a identificação da micobactéria e realização do teste de sensibilidade com os demais fármacos utilizados para o tratamento.
2- O HU conta com o equipamento GeneXpert para a realização do PCR? De que forma é processado este trabalho e quantas amostras pode analisar por vez?
Joana – Sim, o equipamento GeneXpert®️ foi lançado em 2004 e possui uma tecnologia que tem como objetivo simplificar a realização dos testes moleculares. O sistema utiliza cartuchos que detectam o Complexo Mycobacterium tuberculosis, assim como as mutações que conferem resistência à rifampicina (fármaco de primeira linha utilizado para o tratamento de TB). Nosso equipamento, concedido pelo Ministério da Saúde desde 2014, tem capacidade para realizar a análise de quatro amostras por rodada, nele podemos fazer a análise de amostras pulmonares (escarro, lavado brônquico) e extrapulmonares (líquidos: pleural, sinovial, peritoneal, pericárdico, ascítico e cefalorraquidiano, além de urina).
3- O resultado da análise é fornecido em quanto tempo?
Joana – O ensaio fornece resultados entre 65 a 77 minutos. Com isso, possibilita a detecção rápida e adequada da doença, auxiliando para o tratamento correto e de forma precoce, favorecendo o controle da tuberculose.
4- Após o resultado, como o Laboratório de Análises Clínicas do HU procede?
Joana – A tuberculose é uma doença de notificação compulsória e de alto contágio e, portanto, o paciente precisa ficar isolado dos demais. Quando um resultado é positivo entramos imediatamente em contato com a equipe assistencial e controle de infecção do hospital para que eles possam fazer esse isolamento do paciente. No caso de pacientes externos, o contato é feito com o serviço de tisiologia que se encarrega de fazer a busca do paciente e as demais orientações.
5- Depois de quanto tempo as amostras são encaminhadas para o LACEN?
Joana – Em todas as amostras com resultado positivo no TRM-TB são realizadas as culturas de TB. Essas culturas ficam incubadas em uma estufa específica por 10 semanas no laboratório do HU para monitorar o crescimento ou não de colônias características do Complexo Mycobacterium tuberculosis. Caso haja o crescimento, as amostras são encaminhadas para o Laboratório de Referência Estadual (LACEN) para que seja feita a identificação e a realização do teste de sensibilidade aos antibióticos que podem ser utilizados no tratamento de TB.
6- Em função do tratamento ser longo, mínimo de seis meses, muitos pacientes deixam de seguir corretamente. Que preocupação traz esse fato e como ocorre a transmissão e o tratamento?
Joana – A tuberculose é um grave problema de saúde pública no Brasil e afeta anualmente cerca de 70 mil pessoas. É uma doença infecciosa e transmissível, causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis. Afeta, principalmente, os pulmões, mas pode acometer outros órgãos também. O principal sintoma da tuberculose pulmonar é a tosse que pode ser seca ou com produção de secreção, por isso, recomenda-se que toda pessoa com sintomas respiratórios por mais de três semanas seja investigada para tuberculose.
A transmissão da doença acontece por via respiratória, pela eliminação de aerossóis produzidos pela fala, espirro ou tosse. O tratamento para tuberculose sem complicações tem duração mínima de seis meses e, por ser um tratamento longo, muitas vezes não tem boa adesão dos pacientes, o que pode causar uma reinfecção ou fazer com que a bactéria desenvolva resistência aos antibióticos utilizados.
7- Como avalia o crescimento da tuberculose nos últimos tempos?
Joana – Apesar de ser considerada uma doença do passado, a tuberculose continua presente na população. Até o surgimento da COVID-19, era a doença infecciosa que mais causava mortes em todo o mundo e, de acordo com o relatório global da Organização Mundial da Saúde de 2021, durante a pandemia as mortes pela doença aumentaram. Além disso, a propagação de cepas resistentes aos medicamentos utilizados para combater a doença fazem dela um grande problema na atualidade.
Com isso, o Brasil assumiu o compromisso de eliminar a tuberculose por meio do “Plano Brasil Livre da Tuberculose”, publicado em 2017, com objetivo de alcançar uma redução de 90% do coeficiente de incidência da TB e uma redução de 95% no número de mortes pela doença no país até 2035. A iniciativa prevê acesso ao diagnóstico precoce e políticas públicas que auxiliem na redução da contaminação.



