O Ministério Público do Trabalho (MPT) flagrou, durante inspeção em março, uma prática considerada constrangedora na unidade da BRF S.A. em Marau, no norte do Rio Grande do Sul. Mais de 2,9 mil empregados das áreas de abate de aves e produção de industrializados eram obrigados a permanecer apenas de roupas íntimas em filas, aguardando a entrega de uniformes limpos em áreas coletivas.
Segundo o MPT, a situação viola a privacidade e expõe trabalhadores a constrangimentos desnecessários. Entre os casos documentados estão o de uma funcionária com bolsa de colostomia e o de outra com cicatrizes cirúrgicas, cujas condições de saúde acabaram expostas a colegas. As fotos que comprovam as irregularidades foram autorizadas pelos próprios empregados.
Muitos tentavam preservar a intimidade vestindo roupas por baixo do uniforme, mas a estratégia não funcionava em setores de alta temperatura devido ao desconforto térmico.
O juiz Vinicius de Paula Löblein, da Justiça do Trabalho, determinou que a BRF tem 120 dias para instalar divisórias ou cabines nos vestiários, além de reformular o processo de troca de uniforme para evitar a exposição dos trabalhadores. O descumprimento pode gerar multa de R$ 50 mil por obrigação e R$ 2 mil por funcionário prejudicado.
O MPT também pede indenização de R$ 5 milhões por danos morais coletivos — valor que ainda será analisado pela Justiça. A BRF declarou que não foi oficialmente notificada da decisão.
Casos semelhantes já foram registrados em outras unidades da empresa, como em Dourados (MS) e Várzea Grande (MT), reforçando, segundo o MPT, a existência de uma conduta institucionalizada que desrespeita a dignidade humana.
Nota da BRF S.A.
“A BRF informa que não foi notificada e não possui acesso a detalhes do processo. A companhia reforça que segue a legislação vigente e reitera seu compromisso histórico com a integridade, segurança e saúde de seus colaboradores.”
