O Veneno Invisível: Como o metanol ataca a mente e o cérebro
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Foto: Reprodução X

O Veneno Invisível: Como o metanol ataca a mente e o cérebro

Após a ingestão, o metanol não age de imediato. Seus efeitos tóxicos começam a se manifestar geralmente entre 12 e 24 horas

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A ingestão acidental ou intencional de metanol, muitas vezes presente em bebidas alcoólicas adulteradas, representa uma ameaça grave e insidiosa para a saúde humana, com consequências particularmente devastadoras para o cérebro e a mente.

Diferente do etanol (o álcool seguro para consumo), o metanol é um veneno que, ao ser processado pelo corpo, transforma-se em substâncias altamente tóxicas, como o formaldeído e o ácido fórmico.

São esses subprodutos que desencadeiam uma cascata de danos neurológicos, resultando em problemas que podem variar de leves alterações cognitivas a deficiências neurológicas permanentes e até a morte.

Após a ingestão, o metanol não age de imediato. Seus efeitos tóxicos começam a se manifestar geralmente entre 12 e 24 horas, período em que o fígado está metabolizando a substância em seus metabólitos venenosos. O ácido fórmico é o principal vilão, agindo diretamente sobre as células do sistema nervoso central, especialmente aquelas do cérebro e do nervo óptico.

Um estudo de 2017 publicado no Clinical Toxicology, por Schep et al., sobre a toxicidade do metanol, reitera que a acidose metabólica grave induzida pelo ácido fórmico é a principal causa da disfunção orgânica e do óbito. Esta acidose não só afeta o equilíbrio químico do cérebro, mas também interfere na produção de energia celular, levando à disfunção e morte de neurônios.

A complicação neurológica mais característica e temida da intoxicação por metanol é a perda de visão. O nervo óptico, que conecta os olhos ao cérebro, é extremamente vulnerável ao ácido fórmico. Os pacientes frequentemente relatam visão turva, pontos cegos (escotomas) e uma sensação de “campo de neve”.

Em casos graves, pode ocorrer cegueira permanente e irreversível, Barceloux et al., 2010. Isso ocorre porque o ácido fórmico causa necrose (morte) das células do nervo óptico, e, uma vez destruídas, essas células não se regeneram. A agilidade no tratamento é crucial para tentar preservar a visão.

Além da visão, o metanol impacta profundamente as funções cognitivas superiores. Os primeiros sinais podem ser confusão mental, tontura e uma sonolência profunda. À medida que a intoxicação progride, os pacientes podem desenvolver desorientação, agitação psicomotora e, em casos mais severos, convulsões, coma e até morte cerebral.

Estudos de imagem cerebral (como ressonância magnética) em pacientes que sobreviveram a intoxicações graves por metanol frequentemente revelam lesões específicas em regiões cerebrais profundas, como os gânglios da base (putâmen e globo pálido). Essas lesões são associadas a uma variedade de sequelas neurológicas a longo prazo. Um artigo de 2018 na Journal of the Neurological Sciences por Kute et al. descreve casos de pacientes que desenvolveram parkinsonismo tóxico (sintomas semelhantes à Doença de Parkinson, como rigidez, bradicinesia e tremor) e distonia como resultado da necrose dos gânglios da base induzida pelo metanol.

Esses problemas impactam diretamente a capacidade do indivíduo de controlar seus movimentos e funções motoras finas, afetando drasticamente sua qualidade de vida.

A dor de cabeça intensa, náuseas e vômitos são sintomas físicos comuns, mas o impacto na mente vai além. A experiência traumática da intoxicação, a incerteza sobre a recuperação e a possibilidade de sequelas permanentes (como a cegueira ou disfunções motoras) podem precipitar ou exacerbar problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático.

A alteração da função cerebral pode também levar a mudanças de personalidade e dificuldades de memória.

A intoxicação por metanol é uma emergência médica que exige reconhecimento rápido e tratamento agressivo. A exposição a este “veneno invisível” não só ameaça a vida, mas também a integridade da mente, roubando a visão e a capacidade de controle motor. A conscientização sobre os perigos do metanol em bebidas adulteradas e a vigilância na compra de produtos de fontes confiáveis são essenciais para proteger a população dos seus efeitos devastadores sobre o cérebro e a mente.

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