Na tragédia grega Medeia, peça escrita pelo poeta Eurípides em 431 a.C, a protagonista e personagem título, para se vingar do marido que a rejeita para se casar com a filha do rei, mata os próprios filhos que teve com ele.
Nesta semana, a Justiça de Novo Hamburgo tornou ré a mulher indiciada pela Polícia Civil e denunciada pelo Ministério Público como autora da morte da própria filha, de sete anos, em agosto.
Assim como a feiticeira infanticida da tragédia grega, a mãe de Novo Hamburgo teria assassinado a filha em represália ao marido, que estaria tendo um relacionamento extraconjugal. Mesmo que se confirme a autoria do crime e a agora ré seja condenada, muito provavelmente ela não se inspirou em Medeia para agir.
A mitologia, mesma a inscrita na Antiguidade, apresenta diversas representações da vida válidas até hoje. E a personagem Medeia, cerca de 2.500 anos depois, aparece seguidamente em jornais, sites, noticiários na televisão, com diferentes rostos, principalmente masculinos.
São pessoas, na maioria dos casos até então anônimas, que, em nome de uma paixão desmedida e doentia, se acham no direito de vingança em um relacionamento frustrado. Em sentimentos contraditórios, agem com ódio mascarado de amor. Os casos de feminicídio envolvendo casais ou ex-casais infelizmente estão aí para comprovar.
Renato Dornelles



