Começou na manhã desta segunda-feira (27), no Foro Central de Porto Alegre, o julgamento de Jeverson Olmiro Lopes Goulart, policial militar da reserva acusado de estuprar e matar o sobrinho de 12 anos em 2016. O réu, que tem 60 anos e mora no Rio de Janeiro, acompanha o júri por videoconferência.
Goulart responde por homicídio duplamente qualificado e estupro de vulnerável contra o menino Andrei Ronaldo Goulart Gonçalves, encontrado morto em 30 de novembro de 2016, no quarto de casa, na zona Sul da capital. O caso chegou a ser tratado como suicídio ou acidente, mas foi reaberto em 2020 pelo Ministério Público, após insistência da família, especialmente da mãe do menino, Catia Goulart, irmã do acusado.
A sessão é presidida pela juíza Anna Alice da Rosa Schuh, da 1ª Vara do Júri da Comarca da Capital, e o conselho de sentença é formado por quatro mulheres e três homens.
Entenda o caso
Andrei foi encontrado morto com um tiro na testa, enquanto dormia. O tio alegou ter acordado durante a madrugada com o barulho do disparo e encontrado o sobrinho ensanguentado. Segundo ele, a arma era de sua propriedade, mas havia orientado os familiares a não manuseá-la.
Mesmo assim, a mãe da vítima nunca acreditou na hipótese de suicídio. Catia relatou diversas inconsistências, como a forma em que o corpo foi encontrado, a ausência de digitais na arma e um bilhete de despedida supostamente escrito por Andrei, que, segundo ela, não condizia com a caligrafia do filho.
O que dizem acusação e defesa
Para o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS), o tio teria assassinado o sobrinho para encobrir abusos sexuais. Os promotores Lúcia Helena Callegari e Eugênio Paes Amorim afirmam que a cena do crime foi manipulada para simular um suicídio, dificultando a responsabilização do réu.
Já a defesa nega as acusações. O advogado Edson Perlin diz ter “plena convicção na inocência” do cliente e defende que não houve crime.
A defesa também argumenta que a Polícia Civil e o Instituto-Geral de Perícias (IGP) concluíram inicialmente que não havia indícios de homicídio, e criticou o Ministério Público por “desconsiderar um trabalho técnico feito por peritos e delegados”.
Depoimentos e movimentação no Fórum
Ao todo, cinco testemunhas de acusação foram convocadas, entre elas, dois homens que afirmam ter sido vítimas de abuso sexual cometido pelo réu. A defesa não arrolou testemunhas.
A primeira a depor foi Catia Goulart, mãe da vítima, que também participou, no início da noite, de um ato em frente ao Foro Central, pedindo justiça pelo filho.
Emocionada, precisou interromper o depoimento para se recompor. Ela contou que Jeverson além de tio era padrinho de Andrei. Durante o depoimento, Cátia também relatou um histórico de comportamento inadequado do réu, dizendo que ele mantinha relacionamento com a enteada, iniciado quando a menina tinha 12 anos. “De padrasto virou marido”, afirmou.
Entre lágrimas, a mãe lembrou o carinho e a alegria de Andrei, descrevendo-o como um menino “feliz, gremista e muito ligado à família”.
O julgamento segue nesta terça-feira (28), quando devem ser ouvidas as demais testemunhas e apresentadas as alegações finais.



