Roteador via satélite é localizado em cela e levanta suspeitas sobre fragilidade no controle prisional do RS
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Foto: Divulgação

Roteador via satélite é localizado em cela e levanta suspeitas sobre fragilidade no controle prisional do RS

O equipamento, modelo Starlink, tecnologia de alta velocidade criada pela SpaceX, de Elon Musk, foi localizado durante operação do Denarc no dia 27 de novembro

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A Polícia Civil encontrou um roteador de internet via satélite dentro de uma cela da Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas, no Rio Grande do Sul, revelando uma brecha crítica na segurança do sistema prisional. O equipamento, modelo Starlink, tecnologia de alta velocidade criada pela SpaceX, de Elon Musk, foi localizado durante operação do Denarc no dia 27 de novembro.

O aparelho permitia conexão estável mesmo com bloqueadores tradicionais de sinal, possibilitando que presos continuassem articulando crimes de dentro da cadeia como se estivessem em liberdade. A descoberta reforça um problema recorrente: enquanto o crime organizado se moderniza, o Estado segue falhando em impedir a entrada de tecnologias que burlam a vigilância.

O Starlink foi encontrado na cela de Lucas Muniz Sartori, investigado por tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro e uso de rifas fraudulentas para movimentação financeira. Segundo as investigações, Sartori ostentava nas redes sociais viagens, festas e maços de dinheiro, financiados pelo esquema criminoso. Na cela, além do roteador via satélite, também foram apreendidos quatro celulares e porções de maconha.

O dispositivo, que custa entre R$ 800 e R$ 3,5 mil no mercado legal, pode alcançar valores muito mais altos dentro do sistema prisional. A internet fornecida é suficiente para chamadas em vídeo, envio de arquivos e comunicação com múltiplos celulares simultaneamente — funcionando, na prática, como uma central de comando.

O caso expôs novamente a dificuldade do Estado em impedir que tecnologias sofisticadas entrem nos presídios. O secretário estadual do Sistema Penal e Socioeducativo, Jorge Pozzobom, afirmou que suspeita que o equipamento possa ter sido introduzido por drones — uma estratégia crescente utilizada por facções.

Para combater essa tática, a Polícia Penal já adquiriu aparelhos antidrone, similares aos utilizados na guerra da Ucrânia, capazes de interceptar e derrubar aeronaves não tripuladas. Contudo, a própria pasta reconhece que a instalação dos bloqueadores de sinal na Penitenciária Modulada está atrasada, e a empresa contratada vem sendo cobrada pelo Estado.

Pozzobom destaca que, desde o início da gestão, foram apreendidos mais de 8 mil celulares destinados ao sistema prisional, dos quais 2 mil foram interceptados antes de entrar nas unidades.

Não é a primeira vez que um aparelho do tipo é encontrado em Charqueadas. Em 2022, antes da atual gestão, um dispositivo semelhante já havia sido apreendido na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), considerada a unidade mais segura do Estado. A repetição evidencia uma vulnerabilidade que persiste há anos.

A Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo enviou uma nota, confira:

A Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo informa que, conforme o Termo de Referência do contrato firmado com a empresa responsável pelos bloqueadores, o item 9.3 estabelece de forma explícita que cabe à contratada “bloquear todas as frequências utilizadas pelo Wi-Fi conforme padrão IEEE 802.11 e suas variações”. Ou seja, o sistema contratado precisa ser capaz de neutralizar tanto sinais de telefonia quanto redes Wi-Fi que possam ser utilizadas de forma ilegal.

No caso específico da Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas, os bloqueadores ainda não estão ativos, justamente em razão de atrasos na entrega e pendências técnicas que seguem sendo cobradas de forma rigorosa pelo Estado. Enquanto o sistema não é instalado e aprovado em conformidade com o contrato, a unidade permanece em fase de fiscalização e reforço operacional.

A Polícia Penal adquiriu aparelhos antidrone para uso em todas as unidades prisionais gaúchas. São similares aos usados na guerra da Ucrânia, emitem sinais que interceptam e derrubam o aparelho voador.

Desde abril deste ano, a Polícia Penal localizou mais de 8 mil celulares direcionados para o sistema prisional gaúcho. Desses, 2 mil foram pegos antes de ingressar nos presídios, em áreas próximas.

Desde 2019 até o final deste governo, em 2026, o investimento para o sistema prisional gaúcho ultrapassará R$ 1,4 bilhão com a construção de novas penitenciárias e a compra de equipamentos para o enfrentamento à criminalidade, sendo mais de 12 mil vagas criadas e requalificadas para pessoas privadas de liberdade.

Assim, desde 2019, quando teve início a gestão do governador Eduardo Leite, o Estado destinou mais de R$ 1,3 bilhão só para obras no sistema prisional gaúcho — construção de novas unidades prisionais, reformas e ampliações.

Outros R$ 210 milhões foram aplicados para modernizar equipamentos de segurança da Polícia Penal, ampliar o uso de tecnologia e garantir melhores condições de trabalho, em uma estratégia voltada ao fortalecimento da segurança pública e ao controle das unidades prisionais. Entre os itens adquiridos estão scanners corporais e três kits completos de tecnologia antidrone, que colocam o RS entre os estados pioneiros no país no uso do dispositivo, armamentos, coletes, uniformes e viatura

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