Motociclistas falam sobre a "motociata" com o presidente, neste sábado (10), em Porto Alegre
Foto: Marcos Corrêa / Presidência da República

Motociclistas falam sobre a “motociata” com o presidente, neste sábado (10), em Porto Alegre

Motociata com a presença do presidente Bolsonaro está programada para este sábado

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Pedro Neves Dias | Brasil de Fato

Está marcado para acontecer, neste sábado (10), em Porto Alegre, um passeio de motociclistas com a presença do presidente Jair Bolsonaro. Chamado de “motociata”, o evento reúne apoiadores e já ocorreu em diversos estados, sendo a mais recente em Santa Catarina, na cidade de Chapecó.

O Brasil de Fato RS entrou em contato com diversas lideranças e pessoas envolvidas com o segmento das motos, para tentar entender essa movimentação, confira.

Representante da comissão organizadora projeta grande participação

Gisele Flores é motociclista e faz parte do Instituto Sobre Motos (ISM), uma organização da sociedade civil voltada para a pauta dos condutores de moto e educação de motociclistas iniciantes. Ela faz parte da comissão organizadora da motociata que ocorrerá no sábado (10), com a presença do presidente.

Na arte que está sendo usada na divulgação do evento, constam três organizações como responsáveis pelo ato: Associação da Classe Média, Livre Iniciativa RS e “Motociclistas RS”. Segundo Gisele, este último grupo é na verdade uma junção de motogrupos e motoclubes que estão organizando a motociata (tentamos também contato com as outras duas entidades, através do Facebook delas, porém, sem sucesso).

Logo no início da conversa realizada pelo telefone com Gisele, ela ressaltou a importância da utilização dos termos corretos para definir a categoria. Segundo ela, o termo “motoqueiro” carrega um tom pejorativo, sendo que eles preferem ser chamados de motociclistas e motofretistas (ou motociclistas profissionais, que é a categoria dos trabalhadores que atuam nas entregas e encomendas pelas cidades).

Comumente, as pessoas que se denominam motociclistas são as que utilizam as motos de forma não profissional, frequentemente pelo lazer, para fazer viagens e encontrar amigos. É o caso das pessoas consultadas pela reportagem que virão até Porto Alegre para a motociata.

Esclarecidas as diferenças e os termos corretos, questionamos Gisele sobre qual categoria estaria mais representada nessa movimentação de apoio ao presidente e, segundo ela, durante as manifestações não é muito fácil diferenciar as motos, pois, por exemplo, é solicitado que não se utilize baús e bagageiros (por questões de segurança). Além disso, durante as motociatas ficam todos misturados.

Ela acredita que a pauta dos motofretistas tem relações com as pautas dos motociclistas, como por exemplo a redução de impostos e de pedágios em rodovias federais. Ressalta também que o evento tem como objetivo demonstrar apoio ao presidente, pois é a primeira vez que um governo dá um olhar para os motociclistas sem um viés pejorativo.

Sobre as expectativas para a mobilização do evento, espera que dezenas de milhares de pessoas compareçam.

“Ontem (7) tivemos uma reunião para tratar sobre a segurança, temos uma expectativa de 30 a 40 mil pessoas, pois sabemos da grande movimentação. Muita gente comprou moto para poder participar do evento, as concessionárias tiveram aumento de vendas, inclusive da procura por equipamentos de proteção”, afirma Gisele.

Afirma também que há grande movimentação nos hotéis da cidade e que há muitos motociclistas vindo do Interior. Se a previsão de Gisele se concretizar, esta será a maior motociata já realizada até agora, visto que, em São Paulo, o evento contou com pouco mais de 6 mil motos.

A marcha contará com o apoio e a fiscalização da EPTC, Guarda Municipal e Brigada Militar. Já está confirmado o trajeto, com saída programada da Fiergs, passando por Canoas, Rodovia do Parque, RS 448, retornando a Porto Alegre, passando pela Orla do Guaíba e retornando para a Fiergs. Está previsto também que cerca de 180 jet-skis irão saudar o presidente quando ele passar pela Orla.

Sobre as medidas de segurança, haverá credenciamento para participar da motociata no entorno do presidente. Haverão três níveis de credenciamento, sendo o primeiro com o próprio presidente e seu esquema de segurança. Um segundo círculo de credenciamento contará com políticos e pessoas influentes. Segundo Gisele, confirmaram participação o senador Heinze (Progressistas), o deputado federal Bibo Nunes (PSL) e o deputado estadual tenente Zucco (PSL).

Afirma também que existe a possibilidade da participação do ministro Onyx (DEM) e do vice-presidente Mourão (PRTB), além do prefeito Melo (MDB) e seu vice Ricardo Gomes, porém, sem confirmações desses nomes.

Um terceiro círculo de credenciamento irá com pessoas influentes no seguimento de motos e os demais participantes.

Presidente do sindicato de motociclistas profissionais não irá na motociata

Valter Ferreira é presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do RS (Sindimoto), entidade que representa os trabalhadores motofretistas (chamados vulgarmente de “motoboys”) e mototaxistas do estado.

Valter também critica a denominação “motoqueiros”. “A palavra motoqueiro é muito utilizado pela polícia, por exemplo, quando se prende alguém que praticou um ato ilícito, utilizando moto. Isso traz um prejuízo moral para a categoria, por isso preferimos motociclistas profissionais ou motofretistas”, explica.

Ele afirma que o Sindimoto não está participando da organização da motociata e nem irá participar do ato. “Qualquer brasileiro pode se manifestar em apoio ou não. Eu, igual milhares de outras famílias, perdi parentes pra covid, mesmo com todas as privações e precauções, eles foram acometidos e vieram a óbito”, explica Valter.

Afirma ainda que ele como presidente do sindicato que representa a categoria, não irá apoiar uma aglomeração, neste momento em que temos ainda um alto número de mortes e a chegada de uma nova cepa, ainda mais contagiosa. “Estamos tomando nossas decisões baseadas na ciência, não orientamos pessoas a ir ou não ir, cada um dá o valor pra sua vida”, afirma Valter.

Segundo Valter, a categoria dos motociclistas profissionais não teve apoio do presidente, nem de outros governantes. “Editaram decretos que as pessoas tinham que ficar em casa e esqueceram que quem tinha que fazer as entregas são seres humanos também”, afirma. Ele reclama do não apoio para compras de material de proteção ou inclusão da categoria em planos de vacinação.

Da mesma forma que questionamos Gisele Flores sobre o público dessas motociatas, perguntamos ao presidente do Sindimotos se ele identifica que tipo de motociclistas participam dessas movimentações.

“Se for ver as imagens, as pessoas que participam andam em motos caras, em sua grande maioria. Claro que tem trabalhadores ali, a gente respeita, mas a maioria é moto grande, que um trabalhador não poderia comprar.”

Na sua opinião, isso acontece pois Bolsonaro governa principalmente para uma elite, não fazendo um governo voltado para os trabalhadores. Caso contrário, acredita que não poderia haver tantas pessoas com fome ou em situação de pobreza. “Se fosse um governo voltado para a classe trabalhadora, haveria uma atenção especial ao preço dos alimentos, do gás e dos combustíveis.”

Além dessa diferença, percebe também outras discriminações. Destaca que, quando acontece a procissão dos motociclistas profissionais (que acontecia anualmente até a pandemia), os participantes recebem um alto número de multas e infrações.

“Quando acontece as motociatas, ninguém é multado, o próprio presidente já andou com a viseira levantada, em movimento, ou sem capacete, além de ‘buzinaço’ contínuo. Me dou o direito de criticar, pois sou um educador do trânsito, além de motociclista”, reclama.

Rede de motociclistas se articula independentemente

Para além das entidades que organizam a motociata, muitos motociclistas se organizam de forma independente. Participam de motogrupos ou motoclubes, outros são autônomos ou “motocasais”. Como ficou relatado até aqui nesta reportagem, e observando imagens das motociatas anteriores, é possível perceber que existe uma clara diferença entre os motociclistas profissionais, que pilotam suas motos como forma de trabalho, e os motociclistas que utilizam o veículo de duas rodas para lazer, principalmente para viajar.

Além disso, o contato da reportagem com diversos desses motociclistas demonstrou que existe uma rede entre eles, impulsionada pelas redes sociais e aplicativos de troca de mensagens, que possibilita a relação entre um grupo bastante diverso.

Pacífico Fagundes, por exemplo, é um motociclista independente, que viaja junto com sua companheira. Apesar de não participar de nenhum grupo ou clube, ele é filiado à Associação dos Motociclistas do RS (AMO), sendo o coordenador da região da Capital.

Porém, ressaltou que a AMO não tem nenhuma relação com a organização da motociata. Ele afirma não conhecer o grupo denominado “Motociclistas RS”, nem saber quem é responsável pela organização da motociata.

Ele também relata que não apoia o presidente, pois não se envolve com política. Porém, está se preparando para receber diversos amigos que virão do interior do estado para participar do ato, lhes fornecendo pousada e alimentação, prática comum entre os motociclistas viajantes, que fomentam uma cultura de apoio mútuo durante as viagens.

Diferente de Pacífico, Marião e Franciele são um motocasal assumidamente bolsonarista. Estiveram presentes na motociata em Chapecó e estarão neste sábado (10) na Capital.

Consideram que o ato em Chapecó foi uma experiência única e que ficaram muito emocionados com todas as manifestações de apoio ao presidente, e com um “mar de motos que não se acabava”.

“Logo que estivemos em Chapecó, ficamos sabendo que haveria também em Porto Alegre. Quando voltamos para Palmeira das Missões, criamos um grupo, com pessoas de diversas cidades: Panambi, Condor, Rodeio Bonito, Frederico Westphalen, Santana do Livramento, entre outros”, relata Franciele.

Ela relata que também não conhecem o grupo “Motociclistas RS” e que não conhecem nenhum organizador do ato. Na ida a Porto Alegre, ficarão hospedados na casa de Marco e Márcia, outro motocasal assumidamente bolsonarista.

Diferente destes, Jorge Ferrás Vieira é uma das lideranças do motogrupo Paralelo 30° Sul. Quando entramos em contato, ele enfatizou a diferença entre os chamados “motogrupos” e os “motoclubes”. Os motoclubes cumprem alguns requisitos legais, enquanto os grupos são uma livre associação.

“Aqui não tem presidente ou primeira dama, nada disso, somos uma ‘junção’, nos reunimos para viajar e fazer nossas atividades”, relata.

Jorge afirma que não é associado à AMO e que ele não irá participar da motociata programada para o sábado (10). Além dele, nenhum membro do grupo pretende ir, porém, isso não se deu por uma decisão coletiva.

“Eu não vou, pois acho que não tem muito a ver, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Não me sinto à vontade, motociclismo pra mim é uma coisa, política é outra”, afirma. Completa dizendo que se algum dos membros do grupo quiser ir, ninguém irá se opor, pois todos os membros são livres, ele apenas não se sente à vontade de misturar o brasão do seu clube com a manifestação política, opinião que é compartilhada pelos seus amigos de grupo.

Para ele, utilizar a moto para viajar e fazer atividades com amigos é uma forma de ser livre, apenas isso, algo que considera que não deva ser misturado com política.

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