Pesquisadores apresentaram, em estudo publicado pela revista científica Nature, o desenvolvimento de duas vacinas candidatas que estimulam o sistema imunológico a combater a causa da acne, uma das doenças de pele mais comuns no mundo. A proposta é atuar diretamente sobre o Cutibacterium acnes, bactéria associada ao processo inflamatório que provoca espinhas, cravos e, em casos mais graves, cistos.
A acne é uma doença inflamatória da pele causada pela obstrução dos poros em razão do excesso de oleosidade, acúmulo de células mortas e proliferação bacteriana. Apesar de ser frequentemente tratada apenas como um problema estético, a condição afeta milhões de pessoas e pode causar impactos físicos e psicológicos, principalmente durante a adolescência.
A dermatologista Maria Cecília Rivitti, do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), explica que a acne está ligada a fatores genéticos e ambientais, como tabagismo e alimentação rica em carboidratos. Segundo ela, “o aumento da produção de sebo cria um microambiente favorável à multiplicação do Cutibacterium acnes, que desencadeia o processo inflamatório característico da doença”.
Estima-se que 70% a 80% das pessoas apresentem algum grau de acne ao longo da vida. “Por ser tão comum, muitas vezes é tratada como uma questão estética e não como uma doença”, observa a médica.
Tratamentos atuais
Os tratamentos disponíveis variam conforme a gravidade do quadro e incluem medicações tópicas e orais. Entre as opções estão antibióticos do grupo da ciclina, isotretinoína, peróxido de benzoíla, retinoides, ácido azelaico e niacinamida.
Rivitti destaca que os medicamentos atuais “têm ótimo controle da acne”, mas exigem disciplina do paciente, já que os resultados aparecem com o tempo.
Como funcionam as vacinas
As vacinas em estudo utilizam RNA mensageiro encapsulado, tecnologia semelhante à das vacinas contra a Covid-19. Esse RNA codifica instruções para que o organismo produza uma proteína do Cutibacterium acnes. A partir daí, o corpo gera anticorpos que podem neutralizar a bactéria envolvida na origem da acne.
Apesar do avanço, a dermatologista alerta para possíveis efeitos colaterais. “O Cutibacterium acnes faz parte da microbiota natural do corpo e participa da regulação imunológica. Alterar seu equilíbrio pode ter repercussões desconhecidas”, pondera Rivitti.
*Com a informação Jornal da USP