A sequência de fortes temporais que atinge a Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul desde os primeiros dias desse ano impressiona. Um levantamento do Grupo Bandeirantes aponta que, entre janeiro e outubro de 2019, as cidades mais próximas à fronteira do Brasil com o Uruguai foram gravemente prejudicadas pelo mau tempo em, pelo menos, seis épocas diferentes.
A mais grave delas foi logo no início do ano, em janeiro, quando um período de 18 dias com clima instável fez com que 9.000 pessoas saíssem de suas casas. Dois meses após a crise, que provocou uma série de pedidos de ajuda ao Governo Federal, algumas das famílias ainda não haviam retornado às suas residências. À época, o município de Alegrete foi o mais atingido.
Novos temporais aconteceram na região em maio, provocando alagamentos em Santana do Livramento e, mais uma vez, deixando desabrigados. Em junho, o Rio Uruguai transbordou, fazendo com que 17 pessoas tivessem que buscar abrigo em São Borja, e outras três em Uruguaiana. Em julho, foi a vez do Ibirapuitã ter um período de cheias, novamente afetando os moradores de Alegrete.
A meteorologista Letícia de Oliveira, do Instituto Nacional de Meteorologia, explica que a Fronteira Oeste faz parte de uma região bastante suscetível às tormentas, que compreende também parte dos territórios uruguaio, argentino e paraguaio. As condições já são conhecidas pelos especialistas, e são consideradas típicas, principalmente, na primavera e no verão.
“Essa região da América do Sul aqui, de latitudes médias, principalmente a leste dos Andes, apresenta condições potencialmente favoráveis à ocorrência dessas tempestades severas”, diz Oliveira.
Em outubro, Alegrete voltou a sofrer, por duas vezes, com a força das tempestades: no dia 19, o Rio Ibirapuitã voltou a subir, tirando 170 pessoas de suas casas. Por fim, na madrugada do último domingo, 19 residências e duas escolas tiveram o telhado destruído por conta dos ventos. Ainda conforme Letícia de Oliveira, quatro fatores contribuem para que o problema volte a se repetir:
“Cerca de umidade na atmosfera; a ocorrência de instabilidade condicional na atmosfera, que é quando uma parcela de ar fica menos densa que o ambiente e isso proporciona que ela consiga ganhar uma aceleração vertical; terceiro ingrediente seria o que a gente chama de cisalhamento vertical do vento, que é a variação da direção e/ou da velocidade do vento com altura na atmosfera; e o quarto seria um mecanismo que proporciona um levantamento dessa parcela de ar em baixos níveis da atmosfera”.
O prefeito de Alegrete, que foi a cidade mais prejudicada ao longo desse ano, afirma que o fato do município depender do agronegócio para se desenvolver economicamente faz com que os estragos provocados pelo mau tempo nas estradas, por exemplo, sejam muito prejudiciais. Ainda conforme Márcio Amaral, o Poder Público busca enfrentar os períodos de instabilidade, um de cada vez.
“Felizmente, o pessoal tem dado um trabalho muito grande de apoio no período das enchentes aqui. Nós tivemos um trabalho de voluntariado em que foram muito solícitos no sentido de auxiliar a população com doação de alimentos e roupas”.
Nenhuma pessoa teve que sair de casa por conta da última sequência de tempestades na Fronteira Oeste. Além dessa região, cidades localizadas no Noroeste e na Região Metropolitana da Capital Gaúcha também foram bastante castigadas pelo mau tempo ao longo de 2019. Em todas essas localidades, os maiores problemas se concentraram ao longo do mês de janeiro. (Aristóteles Júnior | Band)



