Era noite de uma sexta-feira de junho de 2019 quando Luriane Minho, 28 anos à época, sentiu o coração acelerar abruptamente. A sensação de que o órgão “sairia pela boca” seria normal não fosse o fato de a administradora de empresas estar se preparando para dormir. A aceleração cardíaca incomum a levou até um posto de saúde de Capão da Canoa, município onde mora. Lá, ficou horas recebendo medicação para normalizar os batimentos e recebeu uma recomendação expressa: buscar um cardiologista para investigar o caso.
Na segunda-feira seguinte ao episódio, já no consultório médico, ouviu que o seu caso era suspeito de um problema congênito, a comunicação interatrial (CIA). A doença é caracterizada por uma anormalidade na estrutura do coração, na qual o paciente tem um “buraco” entre os átrios direito e esquerdo. Após uma série de exames, Luriane teve o diagnóstico de CIA confirmado. E mais: essa condição evoluiu para outra complicação, a hipertensão pulmonar.
Naquele momento, a jovem sentiu ter recebido uma sentença de morte. Ela lembra que parou de se cuidar, não conseguia dormir, teve a menstruação interrompida em razão do estresse e deixou todos os planos para trás. “Sentia que eu poderia morrer a qualquer momento”, relata.
Medicada para controlar a pressão alta no pulmão, Luriane viveu, entre 2019 e 2021, uma rotina de cateterismos para avaliar o quadro. Quando os medicamentos surtiram efeito, o médico cardiologista intervencionista João Manica, do Hospital Moinhos de Vento, sugeriu a colocação de uma prótese a fim de fechar o espaço entre os átrios. Após muito estudar o caso, o especialista em cardiopatias congênitas sugeriu a implantação de um dispositivo com fenestra (orifício), a mais indicada para a condição de Luriane. O impasse, no entanto, é que esse material não é autorizado no Brasil.
“Fomos à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fazer uma solicitação. Ele é um dispositivo comprovado, porém, sem autorização aqui, o que exigiria o uso compassivo. Comecei o processo em 2021. Elaborei relatórios, termos de responsabilidade”, descreve o médico.
Após uma longa jornada, tanto da paciente como do especialista, em busca da liberação, em janeiro deste ano, finalmente, a batalha teve um desfecho positivo: a Anvisa autorizou a importação da prótese que, nesses casos, precisa ser doada pelo fabricante.
“Eu chorei quando soube. Tive um sentimento muito bom de ter uma expectativa de vida um pouco maior, de poder conseguir fazer planos”, relata, emocionada, a paciente.
Alguns meses depois da liberação e da fabricação da prótese especialmente para Luriane, o procedimento pode ser realizado no começo de julho. “A cirurgia é rápida, estamos acostumados a fazê-la. O diferente é a prótese, que não existe no Brasil”, explica Manica. Poucos dias após a implantação, Luriane já recebeu alta e foi para casa.
“A medicina cardiológica tem avançado em um ritmo exponencial, trazendo soluções personalizadas para as diversas condições clínicas. Esse foi o caso da Luriane que tinha uma doença cardíaca congênita frequente, mas, que para ser corrigida, precisava de uma prótese específica. A persistência da paciente e da equipe fizeram toda a diferença para o resultado positivo para ela”, destaca a Chefe do Serviço de Cardiologia, Carisi Polanczyk.
Embora não possa se submeter a atividades que aumentem a frequência cardíaca e precise de acompanhamento médico regular, o dispositivo fez diferença na vida da paciente.
“Minha expectativa é que a prótese me ajude tanto ao ponto que não precise mais tomar remédio – ou diminua a dosagem – para a hipertensão. Quero viajar, fazer coisas que antes eu não conseguia porque o meu corpo não aguentava”, descreve Luriane.
Com a informação Hospital Moinhos de Vento.