Cirurgia para tratar doença rara e fatal é feita no Hospital de Clínicas pelo SUS em Porto Alegre – Notícias
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Foto: imagem meramente ilustrativa / Divulgação / HCPA

Cirurgia para tratar doença rara e fatal é feita no Hospital de Clínicas pelo SUS em Porto Alegre

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A combinação de duas modalidades de tratamento tem ajudado portadores de uma doença grave e subdiagnosticada a encontrarem a cura. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) é um dos três centros brasileiros, e o único no sul do país, a realizar a tromboendarterectomia pulmonar para tratar pacientes de hipertensão pulmonar tromboembólica crônica, que pode levar à morte se não for tratada a tempo.

A hipertensão pulmonar tromboembólica crônica é caracterizada pela formação de coágulos rígidos que dificultam a passagem do sangue no pulmão, causando falta de ar, cansaço e dor no peito. Por outro lado, as artérias que não estão comprometidas acabam sobrecarregadas, porque recebem mais sangue. O tratamento com medicamentos ajuda a pressão nas artérias pulmonares. Mas as que estão entupidas só podem ser abertas mecanicamente, com a cirurgia. O procedimento começa nas artérias pulmonares maiores, cortando internamente a parede destes vasos sanguíneos para remover os coágulos. Nas artérias com calibre menor, são realizadas sessões de angioplastia pulmonar. “É como um tronco de árvore com vários galhos, uns mais grossos e outros mais fininhos. A cirurgia desobstrui os galhos maiores, ou melhor, as artérias maiores. E a angioplastia pulmonar, por cateterismo, abre os vasos menores”, compara o médico do Serviço de Cirurgia Torácica, William Lorenzi.

A cirurgia para desobstruir as artérias pulmonares é um procedimento extremamente delicado, que só pode ser feito sem o sangue circulando no pulmão. Durante a maior parte da cirurgia, utiliza-se um equipamento de circulação extracorpórea (Ecmo). Mas no momento da retirada dos coágulos é necessário provocar uma parada circulatória, induzindo-se uma hipotermia profunda no paciente. Ele é então reaquecido e novamente resfriado, para que o outro pulmão seja tratado. Existe risco de sangramento e de inflamação do pulmão.

Desde 2023 já foram realizados 32 procedimentos no HCPA, em pacientes de 23 a 74 anos. A implantação na rotina do hospital foi possível pela formação e treinamento de uma equipe multidisciplinar, que além das especialidades médicas (Pneumologia, Cirurgia Torácica, Cardiologia, Anestesiologia, Medicina Intensiva e Radiologia) envolve profissionais da Enfermagem, Fisioterapia, Farmácia, Nutrição e Psicologia e um profissional perfusionista, que opera a circulação extracorpórea. O grupo vem trabalhando em conjunto e obtendo a expertise para lidar com os casos. O pneumologista Marcelo Gazzana, que lidera o ambulatório de hipertensão pulmonar do hospital, cita outros motivos para a incorporação da cirurgia no Clínicas: “o treinamento do corpo clínico no Hospital Marie Lannelongue, referência em tromboendarterectomia na França, permitiu oferecer esse procedimento para os usuários do Sistema Único de Saúde. Também já tínhamos a tradição de cuidar de pacientes com embolia pulmonar ”.

Subdiagnóstico – além de rara, a hipertensão pulmonar tromboembólica crônica muitas vezes não é diagnosticada. Os sintomas acabam sendo atribuídos a doenças respiratórias e cardíacas mais comuns. Os pacientes que fizeram o tratamento no Clínicas levaram entre três e quatro anos para ter o diagnóstico correto. “É preciso avaliar a possibilidade de hipertensão pulmonar na ecocardiografia e se necessário, solicitar exames como cintilografia, tomografia e cateterismo cardíaco direito. Quanto mais cedo o diagnóstico, menor a chance de sequelas”, alerta Lorenzi. Já Gazzana tem notado um aumento de casos referenciados para tratamento no HCPA. “Nosso programa de residência médica em Pneumologia inclui a formação em hipertensão pulmonar. Isso faz com que os profissionais egressos daqui identifiquem mais rapidamente a doença”, aponta.

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